Quereres

Ao longo do tempo, de tantos olhares, gostares e pensamentos, nenhuma palavra foi dita, silêncio profundo.

Não se sabia quando, sequer se sabia o quanto pesaria o saber, saber que acabou a verdade, a verdade de apenas olhar, gostar e pensar.

A verdade que um dia, num piscar de olhos, virou verdade.

A verdade de poder apalpar, afagar, acarinhar o real, e no abstrato nem pensar.

Uma verdade que virou sonho, um sonho que virou verdade e que fêz do chão uma nuvem que podia ser percorrida em toda a sua extensão, dada a leveza do corpo, ao equilíbrio da mente e reflexões várias, aliadas a sanidade dos atos, ternos e conscientes.

Momentos mágicos, envolventes, que provocaram a intromissão com maestria de deuses e anjos.

Conspiração a vista, invasão sem resistência.

Está criado um novo poder, sob as ordens de conspícuo mandatário chamado "amor".

Sua força é indiscutível, capaz de unificar atos e palavras, impor extensos pacotes de sentimentos, manipular emoções e fazer valer a sua autoridade.

Porém golpes existem e a sua aplicação foi imediata.

Dissolve-se o poder e uma armadilha coloca o amor a mercê da solidão.

Perdido entre um olhar e outro, calado entre uma palavra e outra, sente-se sufocado pela verdade que um dia foi um sonho.

Desespera-se e clama aos deuses e anjos para que façam do sonho, uma verdade. e que o protejam da decepção de que a sua presença seja percebida com frustração, e que não recaia sobre si, a certeza de que a sua imagem foi apenas uma aparição, um espectro.

Carlos Borges Caymmi
Enviado por Carlos Borges Caymmi em 15/12/2008
Reeditado em 15/12/2008
Código do texto: T1337041