nada além de Ícaro, nicotina e lápide
Sou a lingua áspera que habita a boca traída
Sou o dedo fétido pelo cigarro que alivia a tensão
Sou o olho perdido que não reencontra sua amada
Sou o punho quebrado que não deixa o pensamento ir embora
Multidões não me fazem compania
E rostos são apenas quadros
Cheiro de nicotina não me enoja mais
Bolhas nos meus pés não me impedem de andar sem rumo
E meus demônios de saudade
Rasgam meu coração
Como hienas rasgando um flamingo
Tento não virar esquinas
E imaginar você me esperando
Com aquele velho sorriso no rosto
Que parava o tempo
E eu só conseguia enxergar você
Nessa merda de planeta terra
Me sinto tão Ícaro
Por saber das possibilidades
E mesmo assim
Continuei a bater minhas asas de cêra
Por que você fazia me sentir tão vivo, tão vivo
Que juro que conseguia sentir ar nesses pulmões
Tão vivo, tão vivo
Que chegava a doer
E eu queria tudo
Só pra poder entregar pra você
Hoje mais que tudo
Sou tudo aquilo que mais tentei afastar
Hoje, dor de te amar
Jurar a cada segundo
Cada lágrima rasgando a face
Cada soco na parede
Que vou te esquecer
Mas esse maldito aqui
Nunca soube esquecer
Me odeio por me sentir digno de pena
Segurando garrafas de vodka
Respirando dificil e andando sem rumo
Hoje mas do que nunca
Sou o garoto de roupas rasgadas
Que não sente mais alívio algum
Ao sentir o vento jogar meus cabelos para trás
Meus cabelos que nunca estiveram tão sujos
E minha barba tão por fazer
Me afasto das lâminas
Não sou idiota a tal ponto
Mas desejo não me falta
Você possuidora desse meu coração falho
Nunca esteve tão forte e cheia de si
E eu que te amei sem pensar em mais nada
Sou digno de pena
Esse é o final então
Me tornar o rei do nada
Sem discipúlos ou glórias
Carregando vermes e chagas
Meu nome, eu não lembro
Pra poder talhar em minha lápide
Mas isso seria fantasiar demais
Por que você nunca iria
Gastar tempo para colocar flores
Ao lado dela