Olhares

Eis a pior tentativa de um homem explicar um olhar: verbo do Latim - adoculare < ad + oculare, que no verbo transitivo pode significar: fitar os olhos em; encarar; fazer por ver; mirar; contemplar; observar; notar; atender a; cuidar de; julgar; ponderar.

A poesia briga constantemente com a gramática. Creio que meu caso é patológico, pois isso ocorre até quando não desejo. Devidamente fui educado, e sigo os rigores da nossa língua pátria. Juro de pés juntos e mãos voltadas ao cosmo celestial que sou um apreciador da gramática portuguesa.

Porém para tratar de olhares, se faz necessário enterrar-se a gramática junto com gramáticos... Os olhares que por vezes castigam nossos pensamentos, e ora e outra, nos faz pensar no que o outro está a pensar de nós. A tentativa é ainda mais estranha, quando se deseja adivinhar e imaginar o que um olhar dirigido pode significar. Desse modo quero aqui tratar do olhar no verbo intransitivo poético: aplicar, dirigir a vista; estar voltado para; tomar à sua conta; dispensar proteção. Benevolências de íris as quais nós, seres que possuímos olhos estamos submetidos.

Podem acreditar um o olhar sem palavras, diz mais do que uma bíblia escrita em aramaico-português. E quando a expressão dos olhos, aquela como costumam dizer “olhada” é simultaneamente desconfortável e atraente. Só a poesia explica:

Ela tem e ela possui

Um olhar de escorpião

Quem pode desvendar

Sua oculta ambição?

Só consegue um caranguejo

Que de soslaio lhe fita

Ele olha de lado, traqueja

E compreende a perigosa vista

Ocupado ainda observa

Como age sem malícia

Pois há de se perceber

Que analisa com perícia

Os intentos do venenoso

E desatento escorpião

Que afunda em piso arenoso

Procurando seu coração

José Luís de Freitas
Enviado por José Luís de Freitas em 03/12/2008
Código do texto: T1315877
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