A Força do Grito

A Força do Grito

Armstrong

No ano de 2008, pesquisa feita em 2.352 jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol pela mestranda Vanessa Belíssimo, da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, concluiu que os árbitros são mais tolerantes com jogadores de equipes mandantes, apontando que os times que jogam em casa são menos penalizados com cartões.

Não restam dúvidas, aos que torcem por times de qualquer modalidade de esporte no Brasil e talvez no mundo, de que jogar em casa, quase sempre, é sinônimo de vitória. O calor das torcidas incentivando seus times parece aumentar os esforços dos jogadores dos times locais e reduzir o ânimo dos times visitantes. É no futebol, no entanto, onde mais se observa esse fenômeno. Basta, por exemplo, que observem os resultados de loterias de prognósticos onde, quase sempre, as apostas vencedoras estão na COLUNA UM que representa a opção de vitória dos times de futebol que jogam em casa. Vários podem ser os fatores que favorecem os times que jogam com o apoio de sua torcida, os quais dependem diretamente da qualidade da atuação do juiz que, não raro, vê-se em papos de aranha para não atrair a fúria das torcidas desses times. Geralmente esses fatores (pênaltis, expulsões, etc.) estão associados ao grito uníssono das torcidas que podem influenciar na decisão de um árbitro: a força do grito.

Portanto, para que o futebol brasileiro tenha dias mais gloriosos, onde seja imperiosa a prática da ética, a força da torcida do time local precisa ser controlada. O futebol-arte precisa ser resgatado. A criatividade precisa mais do nunca ser estimulada e o fervor das torcidas seja reflexo de conquistas justas. Precisamos ir aos campos de futebol para assistir espetáculos dignos dos noventa minutos e do preço que se paga pelos ingressos, tal como a uma peça teatral. Só assim teremos menos violência dentro e fora dos estádios, além de mais orgulho do futebol brasileiro. Para tanto, seria interessante que tivéssemos juízes e bandeirinhas de futebol de PRIMEIRA, de SEGUNDA e de TERCEIRA divisão. É preciso que se formem no Brasil juízes que sejam capazes de julgar outros juízes de futebol, à luz das regras que devem ser aplicadas. No final de cada partida um ou dois juízes postados nas arquibancadas ou nas cabines dos estádios, dariam uma nota de zero a dez para a atuação dos três juízes em campo. Ao final dos campeonatos, tal qual ocorrem com os clubes, os juízes poderiam ser MANTIDOS, REBAIXADOS ou ELEVADOS de uma divisão para outra. Só assim esses profissionais do apito se esforçariam para que essa força do grito não influenciasse tanto seus trabalhos; só assim se esforçariam para atuarem dentro dos mais elevados padrões de ética e imparcialidade.

Outra forma de se golpear a força local e, também, para que o futebol-arte possa ser levado a todos os recantos deste Brasil, seria realizar APENAS UM JOGO entre os times de Estados onde se tenham mais de um representante no campeonato brasileiro de futebol de qualquer divisão. Os jogos de volta para esses casos deveriam ser realizados EM OUTROS ESTADOS brasileiros, principalmente em locais onde não se tenham representantes de futebol no campeonato. Chega a ser injusto, por exemplo, que nos Estados com sete times presentes em um campeonato, tenhamos mais jogos em casa do que em Estados que só tenham um time representante.

Mudanças não são tão fáceis de serem implementadas, porém, quando se deseja mudar para aperfeiçoar, quase nada custará tentar.