Sem você
O tempo escorre pelos anéis das horas, provocando em seu movimento um vago torpor. É dor que me acomete sem demora, quando em sua ausência, a tristeza me devora.
A lembrança que me fica de você, é companhia que tortura minha alma... A consciência irrequieta não se acalma, perambulando entre a memória e o desejo... E eu o vejo, personagem desta história, que é a própria razão do próprio enredo; desfilar como espectro do medo!
Minha existência perde a cor, a consistência; perde a alegria, eufórica inocência... Perde o encanto, que no espanto se desfaz... E se consome em pranto, que, no entanto não da paz!
Busco seu vulto em cada esquina que atravesso. Meus olhos movimentam-se ansiosos na ilusão de o encontrar. No desespero corro a esmo e tropeço, e tal é minha dor que sem pudor simplesmente eu confesso, o quanto dói nossa separação.
Não posso impedir meu coração, que apaixonado luta alucinado preservando cada emoção. Ah! O sofrimento é tormento que machuca, que fere e cutuca nosso coração.
Não posso aceitar sua ausência, minha querência se rebela frente à dor. Não me é possível conservar a paciência, posto que minha carência é em si testemunha do desamor...
Vou aos poucos me dando conta da solidão imensa que passa a me acompanhar. Um espaço absurdamente sem tamanho, este sentimento estranho insiste em ocupar... E teima, tinhosamente, em me rodear!
Fecho meus olhos, mas sua imagem me preenche. Você habita meu ser incontinente, sem que haja qualquer imposição. Reina soberano em meu juízo, delega como deseja o meu coração. Minha alma jamais o resiste, acolhe tudo que vem de você, envolvendo protetoramente com carinho, cada frágil pedacinho, da memória que insiste em se agitar. E haja lembrança para lembrar; haja tristeza para eu chorar!
Meu coração corteja com esmero nossa história. Simplória é a maneira que com ela vou lidar. Meu olho, sem o brilho que lhe era peculiar vai se turvando, nas lágrimas vai se encharcando, como se toda tristeza, ele pudesse lavar...