A lógica do bem

Quando tinha dezessete anos escrevi um texto* sobre a maldade do ser humano. Na ocasião, eu imaginava que o mal era uma espécie de bumerangue. A pessoa que usasse o mal para atingir as outras sempre receberia, em contrapartida, a mesma dose (ou até maior) de maldade. Achava também que o mal era constante, sempre na mesma quantidade, que não aumentava, nem diminuía. Só era transferido. Ou seja, eu, um reles adolescente de dezessete anos, pensava ter descoberto a verdadeira essência do mal (aquilo que milhares de filósofos e religiosos, ao longo da história, por todo o planeta, ainda não haviam descoberto): o mal nada mais era que um “bumerangue constante”.

Que hilária inocência, a minha!

Hoje, com mais dezoito de experiência, não acho que estava totalmente errado. A própria lei da Ação e Reação confirma isso. Tudo o que fazemos hoje, sendo bom ou ruim, traz-nos consequências amanhã. Mas uma coisa me incomoda. Por que aquela obstinação em querer desvendar os mistérios da maldade humana? Hoje, isso não me interessa mais. Prefiro tentar entender a lógica da bondade, que é muito mais difícil e imensamente mais gratificante. Ser mal é muito fácil. Não exige nenhum esforço. É quase como uma liberação de nossos próprios instintos. É...Infelizmente temos essa tendência. Ser mal é natural. Talvez, seja por isso que, aos dezessete, tinha tanta atração pelo assunto. Na adolescência, normalmente, experimentamos uma intensidade muito grande de sentimentos: insegurança, dúvidas, desprezo, brigas, desilusões etc. Isso me fazia enxergar apenas o lado obscuro. Com o passar do tempo, percebi que acima de tudo aquilo que achava ser mal, algo de bom acontecia. À medida em que ia superando todos aqueles sentimentos, amadurecia-me e me tornava uma pessoa melhor. Na verdade, era preciso passar por tudo aquilo para vir a ser um homem de verdade.

A dimensão que me interessa, hoje, é a do bem. É muito mais desafiadora e estimulante. Para conseguir ser bom, você tem que conter seus próprios instintos. E isso demanda uma certa dose de sacrifício. É preciso autocontrole, luta e esforço. É nadar contra a maré. Mas a recompensa é enorme. Você se sente uma pessoa muito mais completa quando pratica o bem. Talvez seja esse desafio o que mais me atrai nessa lógica da bondade. Nunca gostei de nada fácil.

Outro ponto que me ajudou muito a mudar o foco de visão foi o sofrimento. Não se evolui como pessoa senão pelo sofrimento. Ele é o fermento da alma. Quando se sofre em Deus, sem revoltas e, nele se espera, a alma se fortalece. Mas, ao contrário, se se blasfema e se murmura, com excessos de auto-piedade, a alma é enfraquecida e levada à morte. Que fique claro: Não estou dizendo que temos que sofrer para sermos melhores. Entendam: Se ele vier e for inevitável(o sofrimento), que seja bem aproveitado.

Certamente, naquele dia (em que escrevi aquele texto* sobre o mal), eu jamais conseguiria ter essa visão. Estava magoado demais, inseguro demais, jovem demais.

Agradeço a Deus por ter me concedido mais alguns anos de vida (e que vida!), para que eu pudesse entender ou, pelo menos, tentar entender, o outro lado da história: a lógica do bem!

* ”Desabafo de um adolescente”

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Jack Cannon
Enviado por Jack Cannon em 26/10/2008
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