ILHA DAS FLORES
Há um filme de “curta metragem” gaúcho que se chama ILHA DAS FLORES e tem um roteiro e um conteúdo político-social-ambiental-religioso-moral fantástico. Vale a pena assisti-lo e refletir. Via internet, poderá encontra-lo através de um site de busca, procurando por “curtas gaúchos”.
O filme é uma crítica provocativa e debochada da hipocrisia da nossa sociedade. O filme mostra as nossas entranhas e como o circulo do processo econômico deveria começar no homem e terminar no “ser humano”. O homem deveria ser o princípio, o meio e o fim de tudo que nos circunda.
Infelizmente, o único e verdadeiro Ser Humano viveu entre nós há dois mil anos. É por isso que no Gênesis está escrito que “somos feitos à imagem e SEMELHANÇA de Deus”. Semelhança, porque ainda estamos muito longe de Deus, muito longe mesmo. As vezes, surge uma Madre Tereza de Calcutá, uma Irmã Dulce na Bahia, um Mahtma Gandhi na India e alguns outros divinizados que Deus nos envia para ver se tomamos vergonha na cara, mas estamos sempre encurvados olhando para o próprio umbigo. Teoricamente temos soluções para tudo, mas só teoricamente.
É como a história da torneira que está pingando água. Alguém vai até a pia e coloca uma rolha na boca da torneira para parar de pingar. Uma mera ação paliativa. Ninguém se dispõe a trocar a carrapeta ou mesmo a torneira. Dá mais trabalho, exige envolvimento, participação, responsabilidade e custa mais caro!
O filme demonstra, claramente, que temos um problema CULTURAL sério, grave. Somos um sociedade “piedosa” e não uma sociedade “compassiva”. A sociedade piedosa preocupa-se com ações circunstanciais, surge em função de um determinado problema. A sociedade compassiva é diferente, pois é um “estado de espírito”, não é ocorrente, é permanente.
A sociedade piedosa gosta de ficar levando o peixe para alimentar as pessoas carentes, pois isso faz bem ao ego, massageia a nossa consciência. A sociedade compassiva vai fundo à raiz do problema: ensina as pessoas carentes a pescar!
Quer um bom exemplo? Vamos lá: Sente-se piedade de uma criança abandonada perambulando pelas ruas e, então, dá-se esmola para ela. Em uma sociedade compassiva não há crianças abandonadas e muito menos perambulando pelas ruas, criam-se creches e escolas para elas! O povo “exige” do governo uma solução definitiva para o caso.
A sociedade compassiva não admite mendigos nas ruas, crianças fora da escola, favelas, pessoas sem teto, analfabetas, esgoto a céu aberto, sistemas de saúde pública ridículos, não admite “esmolas” e várias outras indignidades ou humilhações como a demonstrada nesse filme. É uma sociedade preocupada em acolher, incluir, participar, partilhar e compartilhar. Pratica o amor, a justiça social e trata o SER HUMANO com dignidade, não perde tempo em discutir o sexo dos anjos. Age!
Onde há sociedade compassiva existe algo que alguns de nós só conhecem nos dicionários: PAZ! Onde o homem é tratado com respeito, onde a palavra alteridade é colocada em prática. Onde há JUSTIÇA, há PAZ.
A decisão é nossa, Deus não tem nada a ver com isso, Ele nos deu a liberdade e com ela espera que sejamos inteligentes, o suficiente, para solucionarmos os nossos próprios problemas, as nossas próprias misérias. Perguntar onde está Deus que não vê isso, é de uma infantilidade inacreditável.
A decisão é simples: vamos continuar sendo uma sociedade piedosa, boazinha ou vamos mudar radicalmente, vamos nos transformar em uma sociedade compassiva e assim nos transfigurarmos em seres humanos?
Fica difícil discutir “bioética” quando o homem ainda é tratado dessa forma. Temos que passar por uma forte mudança cultural, caso contrário vamos continuar discutindo o sexo dos anjos!
Você decide, Nós decidimos. O que queremos?
Leandro Cunha