Pobreza, Política, Direitos Humanos e Educação: o quê e como fazer para modificar esse duro quadro de miséria humana no Brasil?

A fome advinda da pobreza é muito mais que apenas um prato vazio e pedidos por caridade, é um Raio X das manobras que terminam por manter excluídas grande parcela da sociedade que continuam em um submundo marginal socialmente e que tem a sua essência em questões políticas.

A grande questão da marginalização social não se transcreve tão somente no não ter material, mas no não ter e não poder intelectual – o que mantêm essa camada “in off”, incapaz de lutar por direitos que têm assegurados por lei.

Seguindo esse pensamento torna-se a pobreza, uma pobreza imposta e conveniente, onde o ator principal é o pobre, miserável intelectual que se acostuma a pedir e esperar sempre pelo mínimo e esse pedir transformou-se em uma cultura pedinte, opressora, porém altamente concebível e apropriada para quem está acostumado a olhar a miséria alheia sempre por cima.

Entretanto, o pobre, de ator passa a ser autor do seu próprio destino analfabeto e ignorante, ignorância essa que se torna mantenedora da ordem vigente e capitalista.

O Estado só garante a cidadania a nível titular, e as políticas sociais servem apenas para tapiar, para amansar os pobres que a cada dia mais estão nas mãos de outrem e abandonam-se a si mesmos ao descaso social e a escravidão que oprime e os afasta de uma realidade justa.

Como ter sabedoria para se emancipar e cuidar-se individualmente, se condições intelectuais lhes são arrancadas? negadas?

É “necessário”, uma não compreensão e uma não luta por participação partindo, do princípio que pobre esclarecido e intelectualizado incomoda uma vez que busca por seus direitos e mudanças para si e para os seus, nesse momento, passa a não ser tolerado e temido uma vez que sua autonomia lhe parece clara e possível, tendo assim condições para transpor as fronteiras da marginalização definitiva.

Poder ser dono do seu próprio destino e construir sua história tem sido deveras dificultado ao pobre que já se acomodou na condição em que se encontra onde a miséria é natural e imutável obra do acaso.

Quanto mais se deixa ajudar, mais miserável e intransponível se torna a fronteira da igualdade social e mais fraca a ínfima a idéia de cidadania.

É preciso formar cidadãos com pensamentos autônomos e críticos, para isso necessita-se de escolas e escolas comprometidas na formação do cidadão que ao se educar pode não se tornar mais ricos, mas com condições de competição e inserção social.

É preciso não apenas crescer; mas desenvolver-se e para que esse processo seja possível, a educação é fundamental pois é através de uma educação abrangente, multifacetada e crítica que abem-se portas às oportunidades e essas levam ao desenvolvimento e conseqüentemente a um crescimento e daí mais poder se tem nas próprias opiniões e decisões -- mais poder de transformação social.

Entretanto, a educação não pode agir só e deve estar ligada ao conhecimento e essa parceria é necessária, porém insuficiente quando ainda não se conseguem ter uma visão e capacidade de análise crítica ante a conceitos pré-estabelecidos e uma vez que a educação sozinha não cria emprego a curto prazo e o faz quando consegue atingir autos níveis e uma constância de aperfeiçoamento e reconstrução individual de conceitos prontos, pelas dúvidas e pelo incômodo que o saber provoca – trocando em miúdos, um investimento pessoal no crescimento intelectual e profissionalização.

Essa dinâmica conduz ao processo do aprender que traduz a habilidade de pensar e transformar conceitos a respeito de uma realidade que impõe muito mais incertezas que certezas e em constante mutação – e isso faz do homem diferente e com habilidades próprias e singulares e o capacita a criar máquinas que são capazes de subestimar sua própria capacidade de pensar, processar e criar.

O conhecimento produz também abismos sociais que segrega os que não conseguem produzir o mínimo de saber e transforma os segregados em produto da ignorância, incluídos e afundados na marginalidade, incapazes de arquitetar pensamentos críticos que o lançariam ao campo das possibilidades de crescimento.

As escolas transformam-se em palcos, onde expõem –se os saberes construídos e não incita a capacidade crítico criativa de experimentar, pesquisar e elaborar as experiências transformando-as em saberes novos, em movimento e mais uma vez o pobre afunda-se na própria sorte deixando as vagas gratuitas que teoricamente seria destinada a estudantes de baixa renda novamente para perpetuar a elite.

É direito de todos: aprender e conhecer e esses dois pontos são mínimos, fundamentais e imprescindíveis para garantir uma sociedade igualitária, sem ideologias a cerca da igualdade e inclusão social, nem tão pouco conveniências que favorecem única e exclusivamente a sociedade elitizada que vê a decadência humana de cima para baixo, que ainda dá milho aos pombos, e se vangloria da caridade praticada e da esmola doada.

Michele Oliveira Pereira, em www.educacaoeinclusao.blogspot.com

Educação e Inclusão
Enviado por Educação e Inclusão em 07/10/2008
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