Nossas escolas não podem mais ser depósitos de crianças!
A realidade das escolas públicas em nosso país hoje pode ser analisada sobre diferentes aspectos. Uns positivos, outros negativos.
Positivos quando analisamos sob o prisma das dificuldades e ainda vemos crianças andando em pau de arara, atravessando rios, andando por entre matas, por estradas perigosas, acordando de madrugada e retornando com fome ao entardecer pelo simples prazer que se mistura a necessidade de aprender. Aprender pra sair dessa vida de dificuldades, de privações, pra ter outra sorte que não a de seus pais, agrilhoados ao analfabetismo. Elas, na realidade sabem que o único caminho é o caminho das letras, da educação, e quando o fazem com prazer, nenhum sacrifício torna-se maior que o desejo de saber.
Positivos também quando olhamos o comprometimento e sacerdócio de alguns mestres (que não podemos deveras chamá-los de professores, porque seria muito pouco para qualificá-los). Mestres que se esquecem de si, pela missão de educar, e que não se envaidecem com o eu sei, o eu posso mais. Às vezes se desdobram para presentear seus alunos com letras, com números, com palavras e frases.
Negativos quando chegamos à conclusão de que nossas escolas se transformaram em DEPÓSITOS DE CRIANÇAS.
Crianças que não têm o menor apoio da família, que na maioria das vezes entrega toda responsabilidade por essa criança na porta da escola. Ninguém aprende sem o mínimo de estímulo - que deveria ter raízes em casa.
Crianças que são entregues à própria sorte, que serão o que o mundo permitir que sejam.
Crianças frutos de políticas assistencialistas, apelidadas de "BOLSAS".
Não é assim que se educa, não é dando o peixe, mas é dando a vara, a linha, o anzol, e principalmente, ensinando a pescar!
Não adianta amparar, resolve-se esse problema, porque se tornou um problema social, criando políticas que capacite, que valorize, que possibilite. Só assim se cresce, caso contrário, é mais fácil dormir e esperar o certo ao fim do mês.
Crianças que aprendem muito cedo o lado marginal da vida e que "dessa" aprendizagem fazem oportunidade, e infelizmente engrossam o caldo da marginalidade.
São crianças que não têm carinho, que conhecem a vida pelo outro lado da porta de casa, o lado de fora, o lado da rua, o lado da exclusão.
A realidade do nosso país precisa mudar, urgente! Não podemos mais permitir que nossas crianças sejam tão desvalorizadas, que cresçam como engrossante das camadas marginalizadas de nossa sociedade. Não podemos mais permitir que nossas crianças precisem se dar, por não ter oportunidade, por não vislumbrarem outra saída.
Nossas crianças não podem mais ser depositadas em nossas escolas, a educação precisa começar e se prolongar para família.
Enquanto não houver atenção para essa realidade, continuaremos perdendo nossas crianças e não conseguiremos minimamente controlar a marginalização. Não é isso que elas merecem, mas é apenas isso que conseguirão em suas vidas.
Michele Oliveira Pereira, em www.educacaoeinclusao.blogspot.com