Estudo de caso: a personalidade de Nietzsche a partir do filme “Quando Nietzsche chorou”.

É evidente que se partirmos de uma análise superficial, poderemos dizer que Nietzsche foi uma personalidade contraditória. Que sua filosofia conduz ao abismo. Que suas máximas foram frutos de uma mente conturbada, agressiva e alheia aos problemas do se humano em toda a sua totalidade.

Entretanto, após um respirar profundo não parece ser necessário um grande esforço para percebermos que essas afirmativas não condiz com a realidade dos fatos. A história da filosofia elaborada de acordo com pressupostos neutros, isto é, sem se inclinar nem para a teologia, nem para o preconceito não por acaso coloca esse pensador como um dos mais importantes do século XIX. Isso equivale dizer que para compreendermos ao menos uma parte de sua obra, devemos trilhar pelo caminho reflexivo que conduz ao encontro de sua personalidade.

Vamos portanto ao encontro de Nietzsche! Não devemos, pois ter medo de descobrir o homem uma vez que ele não parece esconder-se por trás das montanhas. O ser humano em si já é uma montanha. Cabe aos pensadores a função de transportá-la para uma região conhecida iluminando-o a luz do conhecimento. Foi exatamente isso que Nietzsche fez.

O filme “Quando Nietzsche Chorou” pode facilmente corroborar esse raciocínio. É que demonstrando a relação, sobretudo entre ele e Breuer fica evidente que Nietzsche não era de maneira alguma desconhecedor da mente humana. Antes, usando de seus próprios métodos psicológicos conseguiu levar luz à mente cansada do doutor Breuer libertando-o dos labirintos de sua própria mente.

Mas, para que isso não fique claro apenas para quem assistiu ao filme, devemos alertar que nele o filósofo e o doutor fazem um acordo. Breuer trataria das dores de cabeça de Nietzsche ao mesmo tempo em que era tratado (por este) dos problemas psicológicos que vivia. E assim, Nietzsche demonstrou conhecer não apenas a superfície do ser, mas o espaço profundo de sua condição humana.

Então por quer Nietzsche chorou? De fato o filme é bastante claro nesse ponto. Não podemos, pois pensar em um Nietzsche sem atributos humanos. Ele era uma pessoa com todas as outras. Sabemos que é perfeitamente normal que as pessoas se emocionem, que chorem e que se sintam solitárias em muitos momentos de suas vidas. Nietzsche então não era uma rocha sólida, mas um ponto devidamente humano entre razão e sentimento.

Evoquemos então Will Durant o grande historiador da filosofia e, deixemos que ele próprio fale:

"Depois dessas deduções (se é que elas precisam ser feitas), o que resta? O bastante para deixar o crítico constrangido. Nietzsche tem sido refutado por todo aspirante a respeitabilidade; e no entanto, permanece como um marco no pensamento moderno e um pico de montanha na prosa alemã. Não há dúvida de que foi culpado de um pequeno exagero quando predisse que o futuro iria dividir o passado em “Antes de Nietzsche” e “Depois de Nietzsche”, mas conseguiu realmente fazer um saudável levantamento crítico de instituições e opiniões que durante séculos tinham sido consideradas como perfeitamente naturais". (Durant, 2000, p.408).

Essa colocação não parece exigir muito como complemento. O que Nietzsche fez não foi mero produto do acaso. Houve exageros sim, como não podemos discordar. Mas, essa característica equivale a dizer também que esse é sem dúvida o tom desafiador e original que permeia toda sua filosofia.

Referência Bibliográfica

DURANT, Will. A História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, tradução de Luiz Carlos do Nascimento Silva, 2000.

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 21/09/2008
Reeditado em 15/10/2008
Código do texto: T1189164
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