NO QUE ACREDITO
Minha meditação é uma constatação de que nossa época não dá a mínima importância ao fato de nada conhecer a respeito de Deus; aliás, saber que esse conhecimento nem mesmo é possível é, para ela, o saber supremo. Por isso, a religião fora lançada ao campo do idílico, pelo simples fato do ser humano ter esquecido o seu fim último: Deus. Para o homem, Deus deveria ser tudo: sua causa primária e seu fim último, a fonte de sua vida, a luz da sua inteligência, a chama da sua esperança, o objeto do seu amor.
Com o advento da modernidade, o homem passa a ser “a medida de todas as coisas” (Protágoras), e assume o papel de demiurgo, de criador. Se ao progresso técnico não corresponde um progresso na formação ética do homem, no crescimento do homem interior, então não é um progresso, mas uma ameaça para o homem e para o mundo. A atual crise da fé é, sobretudo uma crise da esperança cristã, sendo está o que dá forças para viver, pois “spe salvi facti sumus- é na esperança que fomos salvos – diz são Paulo aos Romanos e a nós também (Rm 8,24). É significativo que na Sagrada Escritura, a esperança assume conotações que se inspiram na fé, passando está a ser a substância da esperança. O encontro com Jesus, o Cristo, é conhecer Deus, o verdadeiro Deus, significa receber esperança. Ribomba-se uma questão que requer uma resposta explicita: para nós hoje a fé cristã é também uma esperança que transforma e sustenta nossa vida? Para nós ela é perfomativa, isto é, uma comunicação que gera fatos e muda a vida ou simplesmente informativa – comunicação de conteúdos até então ignorados?
A resposta para isto encontra-se na Divina Liturgia do Batismo, na forma clássica do diálogo em que para exprimir o acolhimento do recém-nascido na comunidade dos crentes e seu renascimento com Cristo. O sacerdote perguntava, antes de tudo, qual o nome que os pais tinham escolhido para a criança, e prosseguia: “O que pedis à Igreja?”. Resposta: “A fé”. “E o que vos dá a fé?” “A vida eterna”. A palavra “vida eterna”, suscita a idéia de interminável, e isto nos amedronta; “vida” nos faz pensar na existência por nós conhecida, que amamos e não queremos perder, mas que freqüentemente nos reserva mais canseiras que satisfação, de tal maneira que, se por um lado a desejamos, por outro não a queremos.
Com efeito, hoje, como sempre, é disso que se trata o Batismo, quando nos tornamos cristãos: não somente um ato de socialização no âmbito da comunidade, nem simplesmente de acolhida na Igreja. Os pais esperam algo a mais para o batizando: esperam a fé – de que faz parte a corporeidade da Igreja e dos seus sacramentos ( sinais sensíveis palavras, e ações). A comunidade eclesial inteira tem uma parcela de responsabilidade no desenvolvimento e na conservação da graça recebida no Batismo, já que a fé para requerer o sacramento não é perfeita e madura, mas um começo. Significativas são as palavras do Simão, o Novo Teólogo, ao dizer que “quem é batizado só desenvolve realmente os efeitos de seu Batismo, se chagar a ter consciência da presença do Espírito Santo em si e se ver a luz da glória de Deus”.
Portanto, pais e padrinhos não se esqueçam do diálogo deste sacramento: “O QUE PEDIS À IGREJA?”. É da experiência com Jesus, o Cristo, que vocês devem pedir o Batismo tendo este conseqüência sociai, pois estão inseridos na comunidade dos crentes. Caso vocês não acreditam fielmente nisso, dou-vos um conselho: Não batizem, já que ninguém dá o que não tem. Quem tem ouvidos que ouça.
Dixit.