AS FACES DA LINGUAGEM NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

AS FACES DA LINGUAGEM NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Drusila de Souza Vasconcelos Vieira 1

O insuficiente desempenho escolar no âmbito da leitura e produção de textos sempre motivou discussões entre estudiosos da Língua Portuguesa. Inúmeros comentários sobre a dificuldade de expressão dos pensamentos entre os jovens sempre estão à tona. A comprovação dessa e outras dificuldades se confirmam nas redações, no vocabulário da gíria jovem, o baixo nível de leitura, etc. As dificuldades de comunicação (sobretudo escrita) nos exercícios e tarefas mostram que a linguagem é fator primordial na construção “sincrônica” do ensino da Língua Portuguesa, pois a linguagem é a expressão de pensamentos (pessoas que não conseguem se expressar não pensam), instrumento de comunicação (transmissão de mensagem) e uma forma de interação (lugar de interação humana).

Diante dos problemas enfrentados por docentes e discentes relacionados ao trabalho da escrita, leitura e estudo da literatura, o presente ensaio tem como objetivos: mostrar a importância de se conhecer as várias faces da linguagem, assim como enfatizar o papel do professor como mediador entre o ensino da produção textual e literatura a partir de uma nova concepção da linguagem. Para ser mais específico, o assunto a ser tratado a seguir, terá como tema: A Linguagem que comunica e viabiliza a criatividade no ensino de redação e literatura.

A partir da definição de linguagem, à qual se sabe que manifesta a comunicação e expressão entre as pessoas; pode-se ampliar tal conceito para uma nova discussão sobre as faces da linguagem e sua utilização nas atividades de Língua Portuguesa em sala de aula.

1 Aluna do 7º período do curso Letras Português da Universidade Federal de Sergipe

“A linguagem está em toda parte. Impregna nossos pensamentos, é intermediária em nossas relações com os outros, e se insinua até em nossos sonhos. O volume esmagador de conhecimentos humanos é guardado e transmitido pela linguagem. A linguagem é, de tal modo, onipresente que a aceitamos e sabemos quem sem ela a sociedade, tal como a conhecemos, seria impossível” (LANGACKER RONALD W. , p.11, 1972).

Na citação exposta anteriormente, observa-se a grande importância da linguagem na vida das pessoas. Sua função não se limita apenas à comunicação, mas é um instrumento de criação, de arte, que por sua vez está relacionada à cultura.

Freqüentemente as culturas refletem a preocupação natural do homem com a linguagem. Em algumas culturas, o poder está intimamente ligado ao domínio da linguagem. Assim, o ensino de Língua Portuguesa também se relaciona à cultura, pois, cada aluno é moldado e influenciado por uma respectiva cultura. Por isso o professor de Língua Portuguesa tem como desafio observar e perceber que o aluno não está isolado da sua cultura, e que esta, já traz em si sua linguagem, sua criação.

O ensino de literatura, por exemplo, às vezes é visto por alguns professores somente como instrumento usado para formar críticos literários com o conhecimento completo do fenômeno literário. É indispensável, claro para o professor, passar esse conhecimento para os alunos, contudo, esse é apenas um dos objetivos no ensino da literatura. Sobre tal abordagem, os cientistas da Língua Portuguesa Geraldo Mattos e Eurico Back fazem o seguinte comentário:

“Para o conhecimento da nossa cultura interessa evidentemente o conhecimento da evolução das grandes idéias que dirigiram o caminho da arte, de modo mais especial a literária” (in Prática de ensino da Língua Portuguesa, p.159, 1977).

Partindo da citação exposta, a visão da “cultura literária” pode desenvolver-se em sala de aula através de algumas atividades que já são usadas, como: pesquisas sobre o autor e procura de várias obras suas, comparando-as com outros textos. Dentro dessas comparações, o aluno pode usar a criatividade a partir da linguagem, por exemplo, como um recurso comparativo entre um texto de tal autor e outro escolhido pelo aluno. O professor não precisa limitar esse estudo à sala de aula, porque os alunos podem usar livros ou músicas de sua preferência com diversas linguagens, todavia, possuindo o mesmo conteúdo relacionado a determinado autor, ou obra em uma específica escola literária.

Desse modo, a comunicação entre o autor (emissor), o livro (meio) e o aluno (receptor) será estabelecida de forma menos cansativa e mais satisfatória no ensino da literatura. O professor conhecerá um pouco da “cultura” dos seus alunos, concomitantemente fará um paralelo com o assunto estudado.

“A linguagem literária nos estratifica e nos reúne. Porque nomeia/desnomeia o mundo, porque fundamenta os ludismos com que escapamos à maré dos imobilismos. Por essa razão é que a literatura não se mensura, não se mede pela pragmática social. Ela é frequentemente tida como inútil socialmente. Mas ela é ainda que nos alimenta de sonhos e revelações, a que nos traduz no exercício da cidadania sem terceirizações” (ARAÚJO, JORGE, p. 21, 2000).

Com relação ao ensino de redação, há uma grande quantidade de número de alunos que não suportam escrever. Isso ocorre muitas vezes, pela falta de domínio da linguagem escrita por parte dos alunos. Para que haja um interesse pela escrita, pode-se criar um estímulo a partir de uma nova concepção por parte do professor em reavaliar a metodologia de ensino no tocante às aulas de redação.

Primeiramente, antes de exigir bons textos escritos de seus alunos, o professor precisa fazer com que estes tenham muitas idéias, porém, estas só se desenvolvem a partir de várias leituras. Tais leituras devem ser “mescladas” com o que o professor define como necessário para um amplo conhecimento dos alunos juntamente com a leitura do universo cultural destes, ou seja, a leitura acessível, relacionada ao meio, ao mundo interior de cada estudante, criando uma mutualidade entre aluno e professor. Sobre tal assunto afirma Paulo Freire:

“Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho; os homens se educam em comunhão”.

Outro ponto importante na elaboração de textos é o domínio da fala, a comunicação através da linguagem falada. Nesse momento, o professor deve ter o papel de receptor.

Para a maioria das pessoas, a atividade da fala, pelo menos em roda de conversa ou com amigos, é algo automático, espontâneo, que brota sem maiores esforços. Porém, quando se trata da linguagem escrita, a dificuldade é tamanha porque ambas as linguagens (escrita e falada) não são treinadas em sala de aula nas suas diversas maneiras.

Como já foi citada anteriormente, a interação nas linguagens escrita e falada entre professor/aluno necessita ir além da prática mecânica da sala de aula. Assim como o ensino da literatura requer um mergulho no “mundo literário” do discente, o ensino de redação também precisa estar conectado com o repertório individual do estudante, ou seja, o professor pode promover debates com assuntos sugeridos por ele e pela turma, onde os alunos começarão a desenvolver sua linguagem falada. Desse modo, a leitura pode ser desenvolvida com essa interação, o que automaticamente implicará numa ampliação de idéias a serem desenvolvidas e maior facilidade para o desenvolvimento da escrita.

“Como a redação é trabalho emissivo, é também criação. Torna-se difícil dar regras para criar: é alguma coisa que vem de dentro de nossa alma e brota quase espontaneamente.”(MATTOS, GERALDO e EURICO BACK, p 149, 1977).

A etapa do tema para a redação não é diferente dos processos citados anteriormente. A comunicação entre aluno e professor também facilitará na escolha do

tema, pois, haverá troca de idéias entre ambos. O professor será o intermediário, ou seja, manifestará indiretamente o tema que quer trabalhar em sala de aula, sem impedir o trabalho de criação do aluno.

Enfim, a linguagem a ser empregada no texto é o grande desafio na elaboração. A linguagem adequa-se ao assunto. O uso de períodos curtos ou longos, por exemplo, deve ser mostrado e relacionado de acordo com os movimentos da fala. Essa e outras formas de desenvolver a linguagem na redação precisam ser passadas ao aluno de maneira mais prática, criativa e menos autoritária. A necessidade de moldar a linguagem na hora de escrever um texto, aos poucos será perceptível aos alunos, de acordo com o treino da escrita.

Assim, a linguagem não é vista como um “bicho de sete cabeças” na sala de aula, mas como um jogo, algo prazeroso. Tanto o ensino de literatura quanto o trabalho da escrita nas aulas de redação, estão entrelaçados com a linguagem, pois esta comunica e viabiliza as maneiras de seu próprio uso na literatura e elaboração de textos. No momento em que as várias “faces” da linguagem são exploradas de maneira prática, relacionando sua aprendizagem com o mundo, as aulas serão menos cansativas, tanto para o professor quanto para o aluno.

REFERÊNCIAS

MATTOS, Geraldo, Eurico Back. Prática de ensino da Língua Portuguesa. São Paulo: F.T.D. 1977.

LANGACKER, W. Ronald. A linguagem e sua estrutura: alguns conceitos lingüísticos fundamentais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1975.

ARAÚJO, Jorge de Souza. Algumas reflexões sobre o ato de ler. Ilhéus - Ba: Letra Impressa, 2000.

GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula: Leitura e produção. Cascavél – PR: Assoeste Editora Educativa, 1984.

Drusila
Enviado por Drusila em 15/09/2008
Código do texto: T1179677