RASTROS DA NOSSA TRILHA

Alem daquela primeira e numerosa corrente migratória, ocorrida no início da década de setenta, e que acabou abarrotando Passos-MG de forasteiros. Outras correntes continuam sazonalmente ocorrendo durante os anuais periodos de moagem da cana-de-açucar. A primeira arribada de forasteiros cunhou profundas marcas e as pequenas chegadas sazonais continuam imprimindo seus estigmas nas características socioeconômicas de nossa urbe.

Vejamos: quando a barragem da hidroéletrica de Furnas bloqueou as águas do Rio Grande, milhares de pequenos proprietários e lavradores expulsos pela conseqüente inundação, elegeram Passos como seus novos lares.Esse pessoal trazia valores próprios de sua terra,o que por sí só já bastaria para determinar uma dificuldade na formação de espirito coletivo. Quando em contato com Passos, Isto, separadamente, já bastaria para explicar por que nesta cidade anfitriã inexiste um denominador ideológico comum. Somos apenas um grande amontoado de pessoas mas jamais conseguimos ser um povo, porque povo tem que estar unido por um fator comum.

Mas não foi só o pessoal que fugia das águas de Furnas na década de setenta que contribuiu para os nossos percalsos históricos sociais. Anualmente temos tambem os trabalhores braçais atraidos pelas usinas de açucar e pelas distilarias de alcoól, que seduzem principalmente o povo sofrido do norte de Minas Gerais e do Nordeste do brasil. Destas levas, para cada empregado que acha colocação nas usinas, vem outros quatro ou cinco que nelas não se empregam. Deste excedente, alguns acham empregos nas fazendas. Outros, porem, não tem essa mesma sorte, e vão cair na mais cruel indigência. Quem chega em Passos percebe imediatamente que a sua população não é entrosada

Somos uma cidade de migrantes, e existem dois tipos de mochilas que acompanham os migrantes, há os que trazem sua mochila cheia de vontade de vencer, enquanto que outros trazem as suas cheias de frustrações e mágoas, depreende-se daí, que alguns migrantes são pessoas sofridas e complicadas.

Num passado mais remoto ainda, tivemos também um periodo de trinta anos de brigas de coronéis. Período em que muita gente foi humilhada nos currais eleitorais, razão porque até muitos Passenses legítimos continuam sentindo que Passos nunca foi terra sua. Creio que esta seja a causa de tantos vandalismos cometidos contra o patrimônio público. Esses Passenses que se situam na majoritára casta dos excluidos, acham que Passos é uma propriedade dos bem-nascidos, gente que essa maioria pobre detesta e odeia. A prática do "vamos quebrar tudo" é uma ideia reinante.

Passos precisa urgentemente de uma terapia coletiva, uma limpeza em sua carga de ódio. Um dia municipal do perdão coletivo.

Elopere
Enviado por Elopere em 14/09/2008
Reeditado em 17/11/2008
Código do texto: T1177321
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