AVANÇO OU ABERTURA PARA A IRRESPONSABILIDADE?
A Universidade será, qualquer Universidade, aquilo que administradores, professores e alunos construírem e refletirá sempre o grau de seriedade das pessoas nelas envolvidas.
Almeri Finger
Navegando-se criticamente pelos acontecimentos que rolam na Universidade Federal de Tocantins (UFT), a despeito do que ocorre, digamos, de sábio, descobrem-se coisas insensatas. Portanto, um pouco de Prudência nos fará um bem danado. Vou direto ao busílis de minha inquietação: que reais estímulos estão norteando essa ânsia por novos cursos?
Na construção de um curso universitário três dimensões precisam ser respeitadas: o suporte legal; o elemento físico e a parte acadêmica.
Se uma Faculdade qualquer tem implicações no meio social, inclusive, gerando conseqüências imprevisíveis, a mesma precisa, sim, passar por mecanismos reguladores mediante os quais a própria idéia de autonomia se configure. Tudo o que estiver nesta esfera há de ter sua gênese nos mais elevados princípios democráticos, nenhum segmento da comunidade deve estar ausente do processo. Em síntese, o aparato legal de um curso superior assegurará sua validade, como dará legitimação aos atos por ele exercitados.
Uma Faculdade carente de seu espaço físico é um reles simulacro. Destarte, tal espaço comporta “Salas de Aula”; “Laboratórios” e “Biblioteca”. Hoje, não podemos ignorar o que a chamada “Engenharia Educacional” tem a nos ensinar quanto ao uso mais inteligente da “Sala de Aula”. Que qualidade acadêmica pode existir num curso universitário sem seu laboratório? Estou com Almeri P. Finger ao dizer: “Uma preocupação constante com a construção, ampliação e modernização dos laboratórios reflete a maturidade e a visão real que tem a administração com a qualidade do trabalho acadêmico”. A questão da Biblioteca é crucial. Faculdade sem Biblioteca ou que tenha apenas um amontoado de livros ultrapassados, fora do contexto do curso, deveria ser processada por crime de “lesa-cultura”. No fundo, é um tremendo embuste. Ai da Instituição que nasça capenga neste particular.
A parte acadêmica, por outro lado, é a razão de ser de uma Faculdade. Afinal, que adianta uma excelente estrutura física, de que vale uma Biblioteca bem aparelhada se aqui ela for um fracasso? É neste setor, como diz Finger, “que se dirá o tipo de profissional que se busca formar, que tipo de professor a instituição privilegia, que campos do saber serão estimulados, que fronteiras do conhecimento serão investigadas, que conteúdos serão ensinados e que livros serão trabalhados”. Agentes, portanto, ativos, são os professores, os alunos e os administradores. Não é preciso muito esforço a fim de percebermos a importância da formação, da cultura e do compromisso dos professores. Aliás, a falha do corpo docente comprometerá os demais ângulos do processo educacional (que dizer de uma Faculdade pública que tenha seu quadro composto quase na totalidade por “substitutos”, se o ingresso há de ser mediante concurso?) Não há dúvida de que no aluno reside a expectativa maior de um curso superior, por isso ele precisa ser desafiado não só em termos de inteligência, mas de criatividade e de ousadia rumo ao ignorado. Quanto aos administradores, convém serem sujeitos competentes, cônscios de que uma Faculdade tem características próprias, que não se pode tolerar tanto o equívoco de dirigirem-na à luz de teorias administrativas empresariais, como agirem amadoristicamente.
Diante do exposto, fica evidente que não podemos sair criando cursos sem antes estudarmos, a fundo, os aspectos levantados acima. Há muita demagogia, empulhação e interesses outros envolvendo a criação de Faculdades no Tocantins. Quem conhece o estado, viu esse filme antes. De minha parte, reitero a pergunta: trata-se de avanço ou estamos caindo numa espécie de abertura para a irresponsabilidade?
Prof. Ms. Ary Carlos Moura Cardoso