Ter mentido é ter sofrido. 0 hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso.

0 odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor. 0 verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se. 0 traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da enormidade. 0 hipócrita é um titã-anão.

Victor Hugo, in "Os Trabalhadores do Mar"
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um provérbio que diz:  A honra é a bússola dos homens de bem

Creio que o norte dos verdadeiros Homens públicos deve seguir a mesma regra para não se perder no caminho da corrupção e desmandos desse País com nome de pau.
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Vejam, minha ponderação de hoje: Ela permeia vontades suprimidas, principalmente dos menos favorecidos e desvalidos, o chamado POVÃO. Pessoas que felizmente ou infelizmente nem sequer sabem da minha existência e também não podem ler esse texto. Recentemente visitei a capital do Rio Grande do Norte, a cidade de Natal, lá conheci um povo amigável e acolhedor, muito diferente das pessoas nascidas em São Paulo e na região metropolitana. Natal vive praticamente do turismo litorâneo, muitos estrangeiros da Europa e América do Norte conhecem o que natalenses podem oferecer de melhor em estadia e hospedagem.

Porém ao visitar a periferia de Natal, lá constatei que o povo potiguar nem sequer tem saneamento básico. Fiquei entristecido, porque algumas horas antes almoçava com meus amigos jornalistas paulistanos, num restaurante junto com casais alemães e noruegueses em lua de mel que aproveitavam a bela vista da Praia de Ponta Negra a pouco menos de 10 KM de distância. Minha decepção aumentou mais quando percorremos cidades vizinhas onde famílias autorizam e abusam da exploração sexual e do trabalho infantil de suas crianças.

Foi por esse motivo que trouxe o texto do poeta francês antes desse relato. Enquanto  governantes dizem que o Brasil avança  eu verifico que tudo isso não passa de propaganda estatal. O nordeste brasileiro precisa urgentemente de um representante a sua altura e potencial econômico cultural. E digo mais, a hipocrisia de lá é quase nada, comparada com a hipocrisia daqui.Penso porque os brasileiros aceitam viver assim? Tanto potencial, tantos recursos, tanta beleza. E permanecemos escravos dos mesmos? Até quando isso? Até quando?