Sobre a possibilidade da existência de pipocas cósmicas
Uma hipótese tão surpreendente quanto bombástica foi criada nos oitentas para explicar a abrupta extinção dos dinossauros revelada pelos registros fósseis; essa explicação consistia na queda de um gigantesco meteoro que teria causado alterações climáticas avassaladoras no planeta, da mesma magnitude que as aventadas como conseqüências de um inverno nuclear, fenômeno exaustivamente estudado durante a guerra fria. Tal catástrofe teria acarretado alterações ecológicas tão extraordinárias que teriam aniquilado a quase totalidade dos dinossauros em um curtíssimo intervalo de tempo geológico, restando apenas os pássaros entre os seus descendentes contemporâneos. Embora tal conjetura tenha sido recebida com enorme ceticismo, dada sua estranheza, acabou por se impor, provavelmente em virtude da descoberta de uma fina camada geológica muito rica em irídio, mineral raro em todo o planeta, mas extremamente comum em meteoros, situadas exatamente no “momento geológico” que assinala a extinção dos répteis gigantescos.
Hipótese similar e ainda mais contundente foi considerada posteriormente: a de que um cometa poderia alvejar o planeta com conseqüências apocalípticas. Asteróides parecem ser pedaços de um antigo planeta destroçado pela gigantesca força gravitacional de Júpiter que permanecem, fundamentalmente, na antiga órbita do planeta, entre Marte e Júpiter, mas que eventualmente despencam dali. Já os cometas “habitam” órbitas muito maiores e distantes, de modo que quando se aproximam de nós o fazem com velocidades superiores às dos meteoros, carregando assim energias colossais e proporcionalmente destrutivas. A observação de um cometa alvejando Júpiter mostrou que tais colisões não são tão raras quanto se pensava.
Um terceiro grupo de astros potencialmente tão, ou mais, destrutivos que os relatados acima são constituídos pelo que pode ser genericamente chamado: pipocas cósmicas.
Não há um limite para a quantidade de energia que um dado corpo pode carregar, de modo que, em princípio, nada obsta que uma pequena partícula possa carregar quantidades imensas de energia tornando-a tão destrutiva quanto um planetóide que contivesse a mesma energia. Pode-se, é verdade, objetar que não se conhecem forças capazes de acelerar um pequeno seixo até transformá-lo em projétil tão destrutivo, no entanto não há nenhum impedimento para que tal pipoca já vagasse pelo universo antes mesmo da grande explosão originária, nada sabemos sobre esse tempo.
É esperado que a colisão de tais pipocas acarretem cicatrizes mais profundas que as usuais nos planetas e luas alvejados, de modo que o tamanho das sombras nas crateras de impacto de astros desguarnecidos de atmosfera poderá revelar a plausibilidade e a probabilidade de que eventos tão destruidores possam vir a se abater sobre nós.
Pós-escrito
Fui informado de que essa mesma hipótese já havia sido aventada por outros e relegada a segundo plano por duas razões:
A ubíqua radiação de fundo, embora bastante tênue, seria percebida de um modo muito mais “palpável” por uma partícula tão energética, quero dizer, no referencial próprio da partícula aventada, a radiação de fundo seria percebida com energia suficiente para freá-la ao longo da imensidão do espaço. Restaria, portanto, a possibilidade de que tal partícula fosse gerada nas cercanias de nosso mundo, no entanto, aparentemente, não há nada nas proximidades que seja estranho o suficiente para produzir fenômeno tão bizarro. Isso leva a crer que a possibilidade de que uma pipoca cósmica minúscula nos traga o apocalipse é nula. Mesmo assim temos que ter a humildade de reconhecer o fato de que conhecemos apenas uma parte muito ínfima do cosmos, e que novos e desconcertantes fenômenos celestes continuam a ser descobertos todos os anos. Continuo achando profícua a busca por crateras extremamente profundas em corpos celestes desprovidos de atmosfera e evidenciadas pelo tamanho das sombras de borda e que sugeririam a existência das pipocas ultra-energéticas.