Monólogo do Amor
Há os que ousam me avaliar
Prejulgam-me antecipadamente
Discutem acerca do que lhes é alheio
Ignorando minha imortalidade
Aventuraram alguns em decodificar-me
Deleitaram-se em palavras briosas
Repletas de sublime ascensão
Desejosos por concretizar-me
Não me encontro em beijos ardentes
Em corpos calorosos, bem mais que tudo isso
De nome também não preciso
Muito menos de classificação
Não diferencio-me do tipo:
Homem e mulher (éros)
Pai e filho (ágape)
Irmã e irmão (filós)
Consolido-me não nos dizeres letrados
Nos versos em prosa, nos louvores ditosos
Na melodia harmoniosa das canções
Bem menos em contos, fábulas, parábolas
Antes, presente estou nas mãos estendidas
Nos braços abertos, no frio aquecido
Na sede saciada, na fome alimentada
No corpo nu vestido, no amparo ao doente
Na visita ao irmão cativo
No auxílio ao desprezado
No socorro ao desamparado
No ombro amigo em momentos de angústia
Bem próximo ao entendimento humano
Sou sentimento verdadeiro
Determinante e elevado
Cabe a quem conhecer-me ser bem-aventurado
Quem se deixa por mim envolver
Descobre em si a essência do ser