Seminário Brasil: 1968-2008

Brasil: 1968-2008

Preâmbulo

O texto abaixo trata de algumas anotações rápidas feitas por mim durante o seminário em questão. Quem se dispuser a ouvir as apresentações dos palestrantes na íntegra, basta entrar em contato com o Interlegis, que gravou tudo em vídeo e áudio.

Entre parêntesis, alguns comentários meus.

F. Maier

*

Dentro da programação do Ano Cultural Artur da Távola/2008, instituído pelo presidente do Senado Garibaldi Alves Filho, atendendo a uma proposta dos senadores Marco Maciel e Demóstenes Torres, ocorreu, no dia 26 de agosto de 2008, o seminário “Brasil: 1968-2008”, no auditório Antônio Carlos Magalhães, do Interlegis, do Senado Federal.

O objetivo do seminário foi promover uma reflexão sobre a história brasileira das últimas quatro décadas.

Primeiro painel: manhã do dia 26 de agosto

A mesa foi composta por David Fleischer (cientista político, prof. Da UnB), Francisco Doratioto (moderador), Paulo Kramer (cientista político, prof. da UnB) e José Nêumanne Pinto (jornalista). O cineasta Wladimir de Carvalho não pôde comparecer à mesa, por problemas de saúde (dor aguda de coluna).

Francisco Doratioto, moderador do primeiro painel, é Doutor em História e escreveu uma biografia do General Osório e o livro “A Maldita Guerra”, que versa sobre a Guerra do Paraguai.

O prof. Antônio Barbosa, historiador e professor da UnB, abriu o seminário e fez a apresentação dos palestrantes, em sucinto currículo. O primeiro palestrante foi Paulo Kramer.

Paulo Kramer

O prof. Paulo Kramer abordou “O Papel no Parlamento no período 1968-2008”. Inicialmente, Kramer sentiu-se incomodado ao ver seu nome escrito na placa sobre a mesa com dois “m”. Perguntou ao jornalista Nêumanne se o nome dele também tinha dois “n”. Jocosamente, Nêumanne respondeu que seu nome tem três “n”...

Kramer lembrou que o Congresso brasileiro começou a funcionar a partir de 1826 e fez um resumo da vida congressual nos últimos tempos, que teve algumas interrupções, com o Estado Novo, o período de 10 meses, entre o fim de 1968 e 1069, por ocasião da criação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) e 1 mês em 1977 (Pacote de Abril).

Paulo Kramer afirmou que “o centro da instabilidade política não é o Congresso, mas o Executivo”, lembrando que poucos presidentes conseguiram cumprir seus mandatos. Durante o governo militar, com eleições indiretas para presidente da República e governadores, o Congresso foi “uma entidade carimbadora do Executivo”.

Kramer falou sobre a criação do bipartidarismo, com Arena e MDB. Para ele, as eleições sempre foram um desaguadouro da insatisfação popular. Em 1974, as eleições deram vitória à oposição, especialmente governadores, que não foram aceitos pela linha dura do governo militar, que tinham uma pinimba especial contra Negrão de Lima, da Guanabara, e Israel Pinheiro, de Minas, considerados “comunistas” pela linha dura simplesmente pela ligação de ambos com JK, um absurdo. Dentro da verve que lhe é bem peculiar, Kramer disse que hoje Negrão de Lima seria chamado de “Afrodescendentão de Lima”, dentro do modo politicamente correto de se expressar. Vale lembrar que Kramer teve problemas na UnB, quando, em uma aula, referiu-se aos negros americanos como “crioulada”, sofrendo sanção disciplinar (multa) – Cfr. http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5945&language=pt.

Kramer afirmou que Geisel, a partir do início do seu governo, em 1974, inicia a política de abertura, lenta e gradual.

Segundo Kramer, a bomba do Riocentro, em 1981, durante o governo Figueiredo, marca o divisor do regime, que queria mudar o regime, mas não abandonar o poder. Começam os movimentos de rua e a degringolada econômica e social do governo.

Em 1982, ocorre a volta das eleições diretas para governadores, a oposição elegeu Leonel Brizola no Rio e Franco Montoro em São Paulo.

Em 1985, houve a eleição indireta para presidente da dupla Tancredo-Sarney. Logo no início do governo Sarney, começou-se a remover o “entulho autoritário” e partidos políticos proscritos começaram a funcionar novamente, como PCB e PCdoB.

O resto da palestra, de tempo bastante reduzido, foi utilizado para Kramer discorrer rapidamente sobre os últimos anos e lembrar a desproporção de peso nos votos de Estados sem significância populacional, como Roraima, onde o voto do cidadão vale mais do que o de São Paulo.

David Fleischer

O segundo palestrante foi David Fleischer, professor emérito da UnB. Natural de Washington, EUA, o prof. Fleischer tem um carregado sotaque ianque à la Mangabeira Unger e é cidadão brasileiro desde 1995.

Como todo anglo-saxão que se preza, Fleischer apresentou seu trabalho em Power Point, projetando na tela uma infinidade de quadros estatísticos. O seu tema foi “Sistema Partidário Brasileiro: Considerações ao longo dos últimos 40 anos – 1968-2008”.

Lembrou que o Parlamento foi fechado em dois períodos e, no mais, o Legislativo sempre funcionou, diferente de países como Argentina e Chile, onde o regime foi muito mais feroz.

A reforma política, para Fleischer, é “uma história sem fim”, como aquele filme famoso, e pode até proporcionar um terceiro mandato a Lula, governadores e prefeitos.

O eleitorado brasileiro, em 2008, é composto de 68% da população.

Com as eleições de 1970, depois do AI-5, o MDB encolheu de 32,5% para 27,7% na Câmara e pensou em auto-extinção.

Lembrou que em 1979 foi extinto o bipartidarismo, surgindo novos partidos, como PDT. Nas eleições de 1982, o PMDB elegeu 9 governadores e o PDT 1. O PMDB aumentou o número de seus deputados, de 168 para 200.

Há o Colégio Eleitoral. Aliança Democrática. O PT expulsa “dissidentes”.

Novos partidos em 1985. Eleições em 1986. Voltam da clandestinidade o PCB e o PCdoB.

1988-1989 – nasce o PSDB. Eleições diretas de 1989, 22 partidos, o pequeno PRN de Collor vence as eleições.

O Plano Real oferece dois governos a FHC.

Em 2002, Lula vence no segundo turno. O PT se torna o maior partido na Câmara, com 91 deputados.

2005 – 2006 – 2007: dissidência do PT leva à criação do PSol. Cláusula de barreira. PL + Prona -> PR; PFL -> DEM

Pacote de Abril de 1977: Não surtiu nenhum efeito sobre a Câmara dos Deputados. Teve impacto no Senado: 60% da Arena (“biônicos”)

“Milagre Malufista”

No início, Maluf tinha minoria na Assembléia Legislativa. Porém, depois conseguiu o “milagre malufista”, com a “migração” de políticos de um partido para outro (os “vira-casacas”)

Golbery: lema maquiavélico “dividir para governar”. Por isso, foi instituído o pluripartidarismo, com apoio à criação do PT, que seria um partido dos trabalhadores, contra os comunistas...

Colégio Eleitoral: O TSE viabilizou a vitória de Tancredo, ao não exigir fidelidade partidária.

“Grotões”: termo atribuído a Tancredo Neves, são as cidades do interior que deram vitória a Collor: quanto menor as cidades, mais Collor; quanto maior as cidades, mais Lula.

No segundo turno de 2006, Lula obteve 58.295.042 votos, quase 61% do total, enquanto que Geraldo Alckmin obteve 37.543.178 votos, número inferior ao recebido no primeiro turno.

A cláusula de barreira foi derrubada porque criaria parlamentares de primeira e segunda categorias.

Renovação das bancadas:

- ruralista: tinha 111, hoje tem 102

- evangélica: tinha 74, foi reduzido para 35, principalmente devido ao escândalo dos “sanguessugas”

- feminina: de 51 aumentou para 57, um número baixo, se comparado a outros países sul-americanos, como Argentina e Chile.

- milionários da Câmara: em 2002, eram 116; hoje são 165, incluindo alguns petistas.

(Além de Lula e Lulinha, que se tornaram milionários, quem seriam esses deputados? O ministro Mantega? O senador Mercadante não é da Câmara, claro, mas é petista, filho de general. Não sei se é milionário...)

Grotões 2008: O Bolsa-Família “vai cantar alto nas próximas eleições municipais”, afirmou Fleischer. (Alguém duvida?)

Finalizando, Fleischer afirmou que o PMDB foi o partido de maior importância no Congresso Nacional. (Não é mais?)

José Nêumanne Pinto

O último palestrante da manhã do dia 26 de agosto foi o jornalista José Nêumanne Pinto, membro da Academia Paraibana de Letras, com livro premiado pela Academia Brasileira de Letras, "O silêncio do delator", como o melhor livro de 2004.

Nêumanne começou a palestra lamentando a ausência de seu amigo Wladimir de Carvalho, um “comunista convicto, como Niemayer”.

A ditadura, em 1965, em “reação pavloviana”, reage contra as eleições para governadores de Negrão de Lima, no Rio de Janeiro, e Israel Pinheiro em Minas, com o Ato nº 3.

Em 1968, com o AI-5, há intervenção direta no Parlamento.

Nêumanne afirmou que a “conciliação” brasileira é uma política falsa, para manutenção do poder, que começa com Getúlio, passa por Tancredo e finaliza em Lula, com sua “democracia de massas” – tirou o bacharel da jogada.

Golbery: teoria da compressão e descompressão, “sístole e diástole”.

Os governos são alternados entre populismo e autoritarismo.

Hoje, não vivemos mais sob o império da sístole e da diástole. Quando os militares, recentemente, ensaiaram uma reação, Lula desautorizou Tarso Genro a falar sobre a tortura (É mesmo? E o que o juiz Garzón “me vê mais uma cerveja aí” veio fazer dias atrás no Brasil?)

Quando Tarso e Vanuchi trouxeram a tortura à baila, deveriam ter tentado promover a justiça em ambos os lados, incluindo os terroristas.

Disse Nêumanne: “Os terroristas lutaram, não para implantar a democracia, mas para implantar uma ditadura comunista”. Ele recomenda o livro de Flávio Tavares, “Memórias do Esquecimento”.

Nêumanne acha que o torturador e o terrorista devem ser punidos, mas devem também ser vistos os “heróis da democracia”. Homens inocentes foram assassinados em ambos os lados.

“Não há heróis da democracia na luta armada e, nesse sentido, Lula é um herói”.

Nêumanne lembrou o episódio interessante em que Paulo Vidal escolheu Lula para substituí-lo, provisoriamente, no sindicato, por considera-lo meio “bobo”, “manipulável”. Deu no que deu... Alguém ainda sabe quem é Paulo Vidal?

“Quem pegou em armas não ajudou a derrubar a ditadura, mas a ampliá-la”, afirmou Nêumanne. Fizeram apenas um “investimento”, lembrando famosa frase de Millôr Fernandes.

Nêumanne volta a lembrar Lula e o movimento sindical como “heróis da democracia”. Com base nessa afirmação, deixei com ele uma pergunta por escrito (Cfr. no final destes apontamentos).

"A discussão da Lei da Anistia é extemporânea", volta a repetir Nêumanne.

Nêumanne lembrou que Tancredo tinha medo que Maluf renunciasse, pois aí as alianças (Sarney) se romperiam e ele teria que enfrentar um adversário de verdade no Colégio Eleitoral.

O regime militar tinha uma obsessão com Brizola. Por isso, costurou o PTB com Ivete Vargas e Brizola teve que criar o PDT. Houve tentativa de impugnação de votos de Brizola, por meio de fraude eleitoral, que ficou conhecida como "Caso Proconsult".

Nêumanne suspeita que Brizola possa ter vencido Lula, em 1989, no primeiro turno, quando a diferença entre os dois foi de apenas 500 mil votos.

Collor quebrou as cercas dos currais no Brasil.

Disse Nêumanne:

“Lula é o primeiro presidente a chegar ao poder sem o bacharelado. É o maior gênio político do Brasil, maior que Getúlio, que encheu de dinheiro a barriga dos banqueiros e enche de comida a barriga dos pobres”.

Lula é o grande “conciliador”, porque fez uma aliança com ex-integrantes da luta armada e com a ralé da política (entenda-se Renan Calheiros, Jader Barbalho, José Sarney).

Segundo Nêumanne, “em 1968, 69 e 70, essa turma se apropria do cofre de Adhemar; hoje, se apropria do cofre da Viúva”.

Geisel, principalmente, impediu que os militares ganhassem prestígio político nacional, diminuindo o tempo dos generais na ativa (Cordeiro de Farias foi general da ativa durante 25 anos). O general Sylvio Frota, ministro do Exército, foi demitido porque fazia política nos quartéis pela sua própria candidatura a presidente e Geisel não queria o risco da partidarização entrando nos quartéis.

Hipótese de Polansas (?): o regime militar evitou que a política entrasse nos quartéis.

(Perguntas minhas deixadas com os palestrantes:

1) A Fleischer: Além de Lula e Lulinha, que são os milionários do PT?

2) A Kramer: Se Collor foi atropelado por um Fiat Elba, por que Lula não sofre impeachment depois de tantos escândalos, como o mensalão, dólares na cueca, dólares de Cuba, dólares das FARC, dossiê anti-Serra e anti-FHC?

3) A Nêumanne: o senhor classifica Lula como “herói da democracia”. Por que, então, ele fundou com Fidel o Foro de São Paulo, que teve como objetivo salvar o regime cubano e comunizar a América Latina?

Veja abaixo as respostas de Kramer e Nêumanne - Notas)

2º painel: tarde do dia 26 de agosto

Compuseram a mesa Estevão Rezende Martins (historiador, UnB), Jarbas Passarinho (Professor Honoris Causa do Interlegis), Antônio Barbosa (historiador – moderador do painel) e Carlos Fico (historiador, UFRJ).

Ao apresentar Jarbas Passarinho, Antônio Barbosa lembrou que Xapuri, município do Acre, é um lugar muito singular, que gerou grandes nomes nacionais, além de Passarinho: Glória Perez, Adib Jatene, Armando Nogueira, Chico Mendes.

Jarbas Passarinho

1945: Os EUA são detentores únicos da bomba atômica. Achavam que teriam essa posição por pelo menos 8 anos, porém em 1949 a União Soviética explodiu sua própria.

1949: início da Guerra Fria

1959: Cuba, produto da Guerra Fria, é a ponta de lança do comunismo na América Latina. A Revolução Cubana ocorreu em 1959, mas Cuba se torna oficialmente comunista a partir de 1961 (ano, também, das primeiras investidas no Brasil).

Guerra Revolucionária – livro adotado nas escolas militares brasileiras. Até então, nada se ensinava sobre o assunto, ou seja, o marxismo-leninismo

Passarinho enaltece o livro “Combate nas Trevas”, de Jacob Gorender, por se tratar de um historiador comunista honesto.

Jango nunca foi comunista, era latifundiário, sempre foi ambíguo, “como o trem elétrico no Rio antigo: ora parava à direita, ora à esquerda”...

“A Revolta de 1935 vacinou o Exército Brasileiro”, disse Passarinho.

Em 1965, a esquerda começa a se reorganizar.

Fidel financiou Brizola, para que desencadeasse uma revolução, a partir do Uruguai (São "Os incríveis "exércitos de Brizoleone", o Brancaleone tupiniquim, como muito bem definiu o escritor F. Dumont - Cfr. http://www.ternuma.com.br/brizola.htm. O pombo-correio desta operação foi Betinho, que mais tarde se tornaria santo no Brasil...):

- O coronel Jefferson Cardim foi preso no Paraná (Cfr. http://www.ternuma.com.br/cardim.htm);

- Guerrilha de Caparaó (1966-67): guerrilheiros se entregam sem dar um tiro; foram denunciados á polícia depois de abater algumas reses na região (Cfr. http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerrilha_do_Capara%C3%B3).

(“El ratón” - É como Fidel Castro denominou Leonel Brizola, por este não ter sabido explicar o destino de US$ 200 mil que o ditador cubano lhe mandou para desencadear a luta armada no Brasil - fato confirmado por Herbert de Souza, o “Betinho” no Jornal do Brasil de 17/07/1996. "Santo Betinho" era o pombo-correio Fidel-Brizola, era ele que levava o dinheiro do Corvo do Caribe para o caudilho guasca refugiado no Uruguai, em uma tranqüila estância da família).

1º fato importante: 1966: Atentado no Aeroporto de Guararapes, Recife, promovido pela AP (marxista-leninista); houve 5 mortes e muitos feridos. Outras bombas estouraram na cidade na mesma ocasião. O impacto poderia ter sido muito maior, se a comitiva de Costa e Silva não tivesse mudado o itinerário, o que fez dispersar o povo do saguão do Aeroporto.

2º fato importante: também em 1966: PCdoB inicia a Guerrilha do Araguaia (segundo Gorender).

Passarinho lembra que a OLAS foi proposta em 1966 por Salvador Allende, futuro presidente do Chile.

(OLAS significa "Organización Latinoamericana de Solidaridad".

No dia 16 Jan 1966, 1 dia após o término da Tricontinental, em Havana, Cuba, as 27 delegações latino-americanas reuniram-se para a criação da OLAS, proposta por Salvador Allende. O terrorista brasileiro Carlos Marighella foi convidado oficial para a Conferência da OLAS, em 1967.

Ola, em espanhol, significa “onda”, seriam, pois, ondas, vagalhões de focos guerrilheiros espalhados por toda a América Latina, como disse o próprio Fidel Castro: “Faremos um Vietnã em cada país da América Latina”.

Após a Conferência, começam a surgir movimentos guerrilheiros em vários países da América Latina, principalmente no Chile, Peru, Colômbia, Bolívia, Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela.)

Marxistas e Agitprop

Dissidência Guanabara/Prestes

1968: Revolução Estudantil, morte do soldado Kozel Filho (só foi reconhecido pela família por causa da fivela de cinto que usava). Passarinho lembrou quem o matou recebe R$ 16.000,00 por mês, sem desconto de Imposto de Renda. A família de Kozel começou a receber pensão de R$ 300,00.

Discurso “pinga-fogo” de Márcio Moreira Alves, no dia 26 de novembro de 1968, pede que se boicote a solenidade do 7 de Setembro e faz apelo para que as moças não namorem militares. Moreira Alves finaliza dizendo que “as Forças Armadas se tornaram valhacoutos de bandidos”. Segundo Passarinho, faltou altivez ao Supremo, para fazer valer a Constituição, pois deveria haver inviolabilidade do parlamentar, para poder expor livremente suas idéias. Passarinho disse, ainda, que é muito estranho que tenha sumido a gravação original daquele episódio envolvendo Moreira Alves.

Salienta, porém, que o AI-5 não foi editado em função do discurso de Moreira Alves, mas em conseqüência do aumento da violência terrorista durante todo o ano de 1968 (Para se ter uma noção da cronologia dos fatos (Cfr. “A TV Lumumba e o AI-5”, de minha autoria, endereço http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=8525&cat=Ensaios).

Passarinho volta a lembrar seu papel na edição do AI-5 e o que a imprensa sempre escreve à respeito (às favas meus escrúpulos de consciência", ao apoiar, como ministro, a instituição do AI-5 - A respeito, Cfr. http://www.unb.br/unb/historia/entrevistas.php). “É só conferir o que eu disse, porque está tudo gravado”. (Sobre os bastidores da época, Cfr. http://almanaque.folha.uol.com.br/entrevista_jarbas%20passarinho_12dez1993.htm).

Passarinho finaliza dizendo que a Colômbia nunca mudou sua Constituição para enfrentar terroristas de esquerda, como o Brasil, com leis duras, “nunca editou seu AI-5”, e o resultado está aí: as FARC já aterrorizam toda a nação há 44 anos.

Estevão Rezende Martins

Começa sua fala dizendo que o movimento de 1968 se inicia no Brasil “por tabela”. Lembra que há uma idealização do ano 1968, que adquire muitos sentidos, para o bem e para o mal. “O ano de 1968 é o ano que nunca acaba”, lembrando o livro de Zuenir Ventura.

Eram as barricadas de Paris e o “é proibido proibir de Bendit, hoje um verde, o que prova que nunca amudureceu”, disse Estevão.

Estevão lembra a Paris que sofreu traumas de 3 guerras: II Guerra Mundial, Guerra da Indochina (depois virou pepino para os americanos – Guerra do Vietnã) e a Guerra da Argélia.

E Berlim, presa numa tenaz, cortada em 4, dividida ao meio (assim como toda a Alemanha): de um lado, ocupada pela URSS, de outro pelos aliados (EUA, França e Grã-Bretanha). Muro de Berlim. Só em 1991 é restabelecida a união das Alemanhas

1956 – Invasão soviética da Hungria

1968 – Primavera de Praga

Greve de mineiros e portuários na Polônia. A força do sindicato “Solidariedade”, durante toda a década de 1980.

“Assumimos o retardamento português como glória nacional”, foi uma das tiradas de Estevão, não me lembro a troco de quê.

Teoria dos três mundos: 1º (países capitalistas altamente industrialoizados.), 2º (países socialistas) e 3º (o resto).

A preocupação dos estudantes de Paris era “o que eu faço amanhã sem ter tomado vodca?”, foi outra das tiradas bem-humoradas de Estevão, uma constante em suas divagações sorbonnescas (Estêvão esqueceu de mencionar o impacto da Revolução Cultural, da China, sobre o 1968, em Paris, com a juventude maoísta. Estêvão elogiou muito a Sorbonne, a maior universidade do mundo, antes de ser dividida - agora a maior é a Autónoma do México -, porém deixou de lembrar que ela pariu monstros como Pol Pot - elogiado por Sartre e Chomsky - e seu Khmer Vermelho, que devastaram o Camboja, e diversos ditadores esquerdistas na África).

Depois das guerras ocorrem os booms de nascimento de bebês: uma massa de estudantes quer saber se tem futuro.

De Gaulle e seu “zorra, não!” Dissolve o governo e convoca eleições, as quais vence.

1969-1982: governo da social-democracia alemã, que desprendeu-se do marxismo tosco.

Lei da Anistia no Brasil (1979)

Diretas-já!

68 é o contrário de 86, quando volta a “reconciliação” através de mobilização nacional. É instalada a Assembléia Nacional Constituinte, um mastodonte que depois requer cirurgiões plásticos para melhorar a feição da “Constituição Cidadã” de Ulysses, através de Emendas Constitucionais.

Carlos Fico

Para Fico, as únicas obras dos militares dignas de consideração foram as Telecomunicações e o aperfeiçoamento da burocracia estatal.

Romanticamente, disse que o “golpe” de 1964 foi desnecessário, porque as Forças Armadas poderiam ter enfrentado a luta armada num governo democrático (A Colômbia que o diga!) Para ele, os fatos mais importantes, em 1968, foram, além do AI-5, a morte do estudante Edson e a invasão da UnB.

Discorreu sobre a repressão política por meio da tortura empreendida pelo DOI-CODI. Para Fico, a Lei da Anistia que Tarso Genro quer modificar, esse assunto chegará ao STF. Prega a abertura dos arquivos militares, tanto do CIE (Exército), quanto do antigo CISA (Aeronáutica) e da Marinha.

Como Genro, Fico diz que a tortura não é um crime político e pede punição para os torturadores (Porém, se cala a respeito de que punição deveriam sofrer os terroristas e seqüestradores. Seriam a tortura e o seqüestro "crimes políticos"?).

Fico inverte os fatos históricos, ao afirmar que foi o governo militar que promoveu a violência em 1968, como a invasão da UnB e o fechamento da peça Roda Viva, de Chico Buarque, quando se sabe que a agenda de 68 foi pautada pelo desencadeamento da OLAS, que pretendia criar “vários Vietnãs” na América Latina (fato que pode ser comprovado na leitura da "TV Lumumba", cit. acima).

Fico disse que a tortura promoveu uma mancha indelével nas Forças Armadas, principalmente no Exército.

Ao final de sua apresentação, durante o debate, foi-lhe entregue minha pergunta: “O senhor disse que as Forças Armadas sofreram uma mancha indelével devido à tortura. Como explicar, então, que essas FA estão entre as instituições que mais gozam de prestígio entre a população, seguida da Polícia Federal e Igreja Católica?

Fico respondeu que entre as pessoas menos esclarecidas isso poderia ocorrer, porém entre aqueles que sofreram violência durante a ditadura a pesquisa mostra outro resultado. No entanto, saiu-se muito bem, ao modo Lula da Silva, que sempre sai pela tangente, agradando banqueiros e posseiros, ao afirmar que diz sempre a seus alunos, que se eles desejam mesmo saber o que ocorreu naquele período do “regime militar”, "que perguntem a seus pais e avós". Enfim, uma sugestão mais do que digna de nota, especialmente por se tratar de um historiador à la Hobsbawm, que analisa a História apenas pela ótica marxista.

Em suas considerações finais, Fico disse que a História, hoje, não tem mais a pretensão de ser uma verdade só. (Uma posição própria do relativismo marxista que rege as escolas brasileiras da atualidade, em que mais de 80% dos estudantes veneram Che Guevara, el Chancho (o Porco), uma “verdadeira máquina de matar”).

Em suas considerações finais, Passarinho disse que “o bolo não é para quem faz, mas para quem come” (talvez uma alusão a Lula da Silva, que come tranqüilamente o jabá preparado pelo Plano Real de FHC, afirmando que “nunc’antes neste país” comeu jabá tão gostoso...) Passarinho afirmou, ainda, que, quando assumiu o Minstério da Educação, havia 137 alunos por 100 mil habitantes no ensino superior. Depois de sua saída, o número era superior a 600.

No final do seminário, foi distribuído um CD para cada um dos participantes, “É proibido proibir – Os 40 anos de 1968”, de 37 minutos, produzido pela Rádio Senado, com depoimentos dos senadores José Sarney, Arthur Virgílio, Jefferson Peres e Pedro Simon, entre outros.

Notas:

Resposta de José Nêumanne Pinto:

De: Jose Neumanne Pinto (JOSE.NEUMANNE@grupoestado.com.br)

Enviada: quinta-feira, 28 de agosto de 2008 10:49:39

Para: Félix Maier (ttacitus@hotmail.com)

Caro Félix,

Resposta à questão por escrito que você me entregou no auditório em Brasília:

São dois momentos históricos diferentes. No primeiro, ao liderar as greves dos metalúrgicos do ABC no fim dos anos 70, ele sabotou a legislação trabalhista autoritária, ajudando a solapar as bases da ditadura. É um dos poucos heróis da democracia. Mas, após a queda da ditadura, ele patrocinou a consolidação dos grupos que combateram o regime com armas na mão, não, porém, para substituir a ditadura militar de direita pelo Estado democrático de direito e, sim, para instalar no lugar dela outra ditadura, só que de militantes da esquerda. O resultado desta conciliação chegou ao poder no século 21 com a instauração da democracia de massas no Brasil, pondo em risco as conquistas da velha democracia burguesa. Antes de chegar ao poder, já havia começado o processo de revisão histórica dando a esses militantes nada inocentes status de herói, o que lhes renderam indenizações e lhes possibilitaram abrir discussões insensatas como a reabertura da lei da anistia. Depois da tomada do poder, esses grupos de esquerda fundaram o Foro de São Paulo e passaram a colaborar com as FARCs. Tenho denunciado isso claramente no dia-a-dia no jornal, no rádio, na TV e em minhas palestras, inclusive a que você assistiu anteontem. Outra ameaça à democracia institucional que a sociedade brasileira almejou e conquistou é a conciliação que, para chegar ao poder e nele permanecer, Lula faz com a escória da política patrimonialista brasileira.

Já que não fui claro, pelo menos para você, na exposição em Brasília, espero estar sendo claro agora.

Abraço, obrigado por me dar oportunidade de esclarecer este ponto crucial.

Nêumanne

*

Resposta a Nêumanne (28/8/2008):

Grato, Sr. Nêumanne, pela resposta.

Falta corrigir uma coisa: a clePTocracia que aí está não fundou o Foro de São Paulo depois que chegou ao poder, mas em 1990, após a derrubada do Muro de Berlim e devido ao corte da mesada de Gorbachev a Fidel - antes, portanto, da chegada da "democracia de massas" ao poder a que o Sr. se refere.

Para Lula e companheirada, Cuba deve preservar seu regime tirânico. Para isso, ele anda contribuindo com dinheiro vivo e instalação de empresas na Ilha, como o setor sucro-alcooleiro, e exploração de petróleo, via Petrobras. Hugo Chávez, na outra ponta, contribui gratuitamente com farto óleo venezuelano. Este foi o objetivo primeiro da criação do Foro, realizado por Fidel e Lula: preservar o comunismo na Ilha. O segundo foi "recuperar na América Latina tudo o que foi perdido (pelo comunismo) no Leste Europeu", no dizer do próprio Fidel Castro. O sonho dessa gente é criar na região uma nova União Soviética, a tal União das Repúblicas Socialistas da América Latina (URSAL), ou qualquer outra denominação que venha a ter. Não esquecer que tempos atrás foi criada a Unasul, que tem exatamente este objetivo.

Assim como a mão masculina tem uma atração fatal por seios femininos, Lula tem uma predileção particular por tiranos, sejam eles latino-americanos, africanos ou asiáticos. As ações de Lula, portanto, são no mínimo dúbias, e nunca, no meu entender, deveria ostentar o título de "herói da democracia".

Atenciosamente,

Félix Maier

*

Resposta de Paulo Kramer:

Resposta ao amigo

De: Paulo Kramer (kramer.paulo@uol.com.br)

Enviada: sexta-feira, 29 de agosto de 2008 10:52:53

Para: ttacitus@hotmail.com

Antes de mais nada, quero que saiba o quão honrado e feliz me senti com sua prestigiosa presença à minha palestra, terça-feira última, no auditário do Interlegis/SF!! Muito obrigado!

Realmente,o Lula parece ter descoberto a chave de sua eternização no poder via bolsa-família. Enquanto isso, o PT (muito menor e menos popular que o seu líder supremo) se apavora com a perspectiva de deixar a mamata das centenas de milhões de cargos que ocupa na administração pública federal.

O mais triste, como reiteraram outros palestrantes, é a fragilidade, e, portanto, de rumo das oposições...

Abraço do amigo,

Paulo Kramer