Gustafson

Agora eu ando nessas ruas desertas, me embriago no vinho e rabisco meus cadernos entre um poema e outro dilema. As trevas da noite e a lua, junto com o vinho, são meus principais companheiros. Entre uma feição feliz, um sorriso aqui e um asceno positivo ali, me carcomo por dentro em amarguras e desesperanças. Andando agora nesta rua que nada significa pra mim, eu penso que queria estar mesmo é naquelas ruas européias onde as folhas secas formam tapetões sob o tempo gélido e pacífico. Mas aqui, entre um gole e outro, olho para o meu caderno onde não faltam desenhos. Antes não era assim, eu escrevia, e escrevia muito e muito bem, mas agora nem isso me dá prazer. Eu consegui me livrar do vício de escrever, mesmo contra minha vontade. Muitos fingiram um dia ser meu amigo, muitos me abraçaram e me desejaram boa sorte, mas ninguém preencheu o vazio de amizade, e nenhuma mulher preencheu por completo meu vazio de amor. E este último vazio sempre vai aumentando, carcomendo, é como um parasita. O que eu queria agora era ter um copo de veneno para beber numa só golada e ver se no espaço entre o gole e a morte eu consigo fazer, enfim, algo que me anime a viver alguns últimos minutos, mas não tenho esse veneno. O que eu queria era ver, depois da morte - Ah, amiga morte! -, quem diria "que pena", e quem diria "finalmente!". Eu perdoaria os que disseram "finalmente!", mas nunca os que disseram "que pena". Eu só queria ver, amiga morte, se tens uns espaço para mim, que nunca lhe fui contra, nunca lhe culpei, ao contrário, sempre lhe amei. Agora eu sei mais do que nunca, seria melhor não me ter colocado no mundo.