O MEDO: NOSSO GRANDE AMIGO.

Por mais antagônico que possa parecer o título deste breve trabalho, creio ser exatamente esta a concepção para dar bases àquilo que os amigos irão ler.

No sentido literário da palavra, o "medo" é algo que nos assusta, pois deriva dele todos os "fantasmas" que nos assombram.

Temos medo do desemprego, da traição, da solidão, emfim, tememos tudo aquilo que pode vir a ser motivo de transtornos para o nosso cotidiano. É esse o tipo de medo que quero enfocar, apesar de, em sua natureza íntima, ele pouco se diferenciar daqueles que nos são causados por "agressões" ambientais, tal como o fogo, que sabemos, pode nos queimar. Nossos medos íntimos - os primeiros - podem nos causar danos maiores que queimaduras físicas, pois esses "queimam" nossa alma.

Mas como podemos enxergar o medo como um aliado? Tomemos por exemplo o medo do desemprego. Se voltarmo-nos para um enfoque de nossas mentes aos transtornos pelos quais passaremos na ausência de um atividade remunerada, deixaremos que tal medo iniba nossa potencialidade profissional, o que nos tornaria uma pessoa como outra qualquer, daqueles que fazem estritamente aquilo que de nós se espera. Desta feita, nada de especial estaríamos apresentando, e, conseqüentemente uma ascensão hierárquica se tornaria praticamente impossível. Dai resultaria um quadro enfermiço de nossa alma causado pela sensação de inferioridade perante àqueles que galgam patamares mais elevados. Talvés, também, aquela auto-rotulação de "injustiçados". E tudo isso porque, no medo de se perder o emprego, ficamos inibidos de participar de forma mais ativa do crescimento da empresa através da melhoria de nossas atividades, dando aos nossos superiores razões para que nos olhassem com mais atenção. Se fosse num time de futebol, e você sendo atacante, não importaria se numa partida qualquer você arriscasse quinze chutes ao gol. Se eventualmente uma dentre as quinze tentativas se convertesse em tal, estaríamos sendo observados com mais atenção. Agora, se no medo de errar você deixar de arriscar temendo a vaia da torcida, então, meu caro amigo, contente-se em ser atleta de um time de pequena expressão para o resto de sua carreira.

E o que se dizer do medo da traição, seja ela passional ou não. Quando alimentamos esse medo, também alimentamos nossas inseguranças, já que nesse caso o que se teme são atitudes alheias que possam nos prejudicar (lembram do meu trabalho sobre "decepções"?...). Tais inseguranças abrem as portas para outros vilões do nosso cotidiano, como o ciúme, por exemplo. Quando nosso ciúme é algo incontrolável, passamos a agir de forma repressora como que querendo ditar aos nossos conjugês ou até amigos - sim, amigos. Ou ninguém aqui nunca teve ciúme de amigos? - uma norma de conduta. O que se observa nesses casos é que, o medo de sermos traidos faz com que passemos a agir de um forma tal que, invariavelmente levará a outra pessoa a gradativamente se afastar de nosso convívio. Quantas traições passionais se dão pela postura repressora de um para com o outro!

E o medo da solidão? Quando externamos de maneira grosseira esse sentimento, passamos a agir de forma a angariar votos de fidelidade buscando a simpatia alheia. Porém, na ância de sermos tidos como "imprescindíveis" na vida dessas pessoas, tomamos atitudes que futuramente se voltarão contra nós mesmos. Ai então, nos entrometemos em contendas, em fofocas, em boatos, sempre querendo mostrar às pessoas de nosso interesse que estamos à seu lado. Pura ilusão. Quando nos intrometemos em assuntos que não são de nossa competência, estamos também assumindo a responsabilidade pelos danos por vir. Outra forma errônea de se obter simpatizantes é nos colocarmos como uma pessoa especial diante de todos, não com nobres atos, mas com vícios de ostentação e orgulho. "Vejam, meu novo carro" "Olhem só a quantidade de cartões de crédito que tenho em minha carteira" "Pois é, nessas férias fui à Paris e...blablabla (uma hora de conversa se vai)". Tais atitudes são típicas de pessoas que, com o medo da solidão, passam a agir para se tornarem alvo das atenções. Mais tarde, quando todas essas máscaras caem, elas se vêem sem ter com quem partilhar os pequenos ou grandes momentos da vida. E tudo pelo fato de não querer uma vida solitária.

Mas enfim, onde está o lado positivo desses medos? O lado positivo será verificado se, numa profunda e séria analise dos nossos medos, detectarmos tudo aquilo que devemos fazer para não transformarmos aquilo que até então era medo numa realidade de vida. Se combatermos nosso egoismo e seu irmão, o orgulho, mas de maneira profunda, saberemos reconhecer que tais medos se encontram em nosso mais profundo íntimo. Reconhecidos esses medos, fica menos complicado evitarmos os transtornos advindos de suas concretizações. Concluo então que o medo é na realidade um "amigo oculto", presente junto a nós o tempo todo à nos avisar dos danos que algumas transgressões de comportamento podem nos causar.

espírito do mar
Enviado por espírito do mar em 20/02/2006
Código do texto: T114139