Freud de Havaianas

À Ana Augusta Ravasco Moreira Maia

Nunca tive filiação teórica, apesar de alguns autores me sustentarem com argamassa sólida, as mais sutis e delicadas, é bem verdade, mas que me permitem manter-me em pé ( ou de ponta cabeça) com certa propriedade, ma non troppo.

A desfiliação neste caso é minha liberdade para pensar.

Sou frankfurtiana, benjaminiana por consaguinidade espiritual, flamenguista, kierkegaardiana, existenciliasta, tropicalista, Gustav Klimtiana, budista iniciante, Manoel de Barros barrista, sei lá mais o quê...

Não rezar a cartilha de gurus teóricos não significa adotar um mix de pensamentos desbussolados, numa tentativa vã de abarcar o mundo das idéias com as pernas e se sentir o modernoso filósofo dos dias hipermodernos.

Dá um trabalho enlouquecido conhecer, ler e reler cada um com o olhar da ótica do atravessamento e da interpretação crítica emancipadora Semi-leitores não se permitem tal flexibilidade dolorosa e cansativa.

Não ter um altar teórico concede-me a liberdade de olhar e escrever no registro da suspeita e do assombro, cabe ao generoso lector escolher.

Escolhas com sustentação.

De qual fôrma me é permitido olhar para um quadro num Café maravilhoso em Terê, pintado por grande artista, e avistar um homem com uma insinuação pictórica de um chinelo e chamá-lo de Freud com havaianas?

Heresias autopoiéticas.

Escolhas.

Hoje, não quero o cachimbo e o divã, quero a liberdade de iluminar, às escuras, meu olhar de vagante esteta e ética, à procura da forma e conteúdo fechando uma gestalt mesquinha ou magistral.

Escolha, mas não do sempre igual.

Escolha que exige sustentação. Luto para tê-las.

A psicanálise liberta, outras lecturas também. Por que não um atravessamento náufrago entre elas?

Uma proposta em aberto, inacabada como a vida que pulsa em nossas veias latejantes de sangue.

Ana Paula Perissé
Enviado por Ana Paula Perissé em 04/08/2008
Reeditado em 04/08/2008
Código do texto: T1112432
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