sobre o livro
Livro, qual a importância?
Entre tantos livros já escritos, milhões de títulos e temas, cada um com sua particularidade. É muito comum se atribuir toda sabedoria aos livros. Concordo que toda espécie de livro tem seu valor. É! Livros são sempre importantes. Há, ainda, livros que consideramos como algo fundamental, leitura obrigatória.
Como escritor, poeta ou filósofo, eu posso dizer, e acredito com toda convicção: os livros que li, entre tantos de temas e ciências distintas, foi com estes livros que adquiri o que sei do mundo e da alma humana. A cada obra terminada experimentei um regozijo que não serei capaz de reproduzir em vários livros de análises psicológica que me aventurasse, para explicar o que é um senso de realização.
A maioria dos autores comete um pueril engano o de mensurar as emoções de escrever e publicar um livro, como quem traz ao mundo um filho. Não há parâmetro para se comparar uma obra literária, muito menos com a emoção de se ter um filho. Pode ser, que para alguns autores, sobretudo para aqueles eunucos-solitários, que não experimentaram ainda as emoções humanas, no seu mais alto grau; como os que usufruem as nuanças da criação de um ser humano, um projeto complexo que leva em média 21 anos; pode ser que não tenham noção do equívoco que cometem. Um livro, para um escritor prolífico, que publica vários livros por ano, não raro sem conteúdo importante; neste caso o equívoco é ainda maior. Estes são como aquelas mulheres de aluguel que geram filhos por encomenda.
Escrever, segundo Schopenhauer, não é ofício para o segundo sexo, para mulheres. Escrever é tarefa que exige virilidade no sentido literal da palavra, e a virtude de um espírito criador se reconhece não pelo sexo e sim pelo texto, pelo argumento psicológico. Muitos livros são maiores que seus escritores. Este ponto vista, para alguns analistas pode ser ideal, no entanto, acredito que se um livro se torna maior que se autor é porque este autor não soube o que estava produzindo.
Um bom escritor não se resume em um livro apenas. Não conheço nenhuma obra de importância erudito-didática que não tenha seus “irmãos”, que não tenha sido, não raro, o membro mais vigoroso da prole do seu genitor. Qual a principal obra do autor x ou y? Sempre há uma resposta fiel para todos que pesquisam o mundo literato.
O fato é que a mídia, muito desavisada, confunde a obra com o autor ou vice versa, diz sempre: aquele autor do livro x. Mas, faça uma revisão nos seus arquivos e responda qual o livro mais importante de Platão? A República? E de Sócrates? Este, por ser gênio, não tem uma obra prima, seu nome é sua obra em síntese. É sempre um grande autor que determina a importância do livro e não o livro que revela a grandeza do autor.
O livro é sem dúvida uma parte da alma do autor, mas, não seria justo dizer que uma alma profunda possa expor de uma vez só, por meio da escrita, sua alma em essência total, em apenas um livro. Conheço, portanto, alguns que foram tão transparentes que depois de produzirem um único livro, não tiveram, mas sangue nas veias para gerar outro rebento. Cito Schopenhauer, com seu mundo como representação e vontade, Dante com sua comédia, Cervantes com seu Quixote, Kafka com sua metamorfose, Goethe com seu fausto. Todos estes são referências de talento, embora tenham escrito outros livros, são apenas reconhecidos por um título.
“De se fazer livros não há fim, e muita devoção a eles é fadiga para os ossos”
Autor: Evan do Carmo 30/07/2000