ESCREVER CONTOS EM 10 DICAS – 6ª.DICA: A NARRAÇÃO - 7ª.DICA: OS DIÁLOGOS - 8ª.DICA: O USO DO TEMPO

ESCREVER CONTOS EM 10 DICAS – HOJE:

- 6ª.DICA – A NARRAÇÃO

- 7ª.DICA – OS DIÁLOGOS

- 8ª.DICA – O USO DO TEMPO

Se está acompanhando desde a 1ª.DICA, então você:

- Entendeu do que se TRATA um conto;

- Está exercitando uma nova forma de OLHAR os fatos e os

acontecimentos;

- Começou a LER mais e melhor (ou continuou);

- Está praticando a DESCRIÇÃO de objetos;

- Está praticando a DISSERTAÇÃO sobre imagens;

- Começou a criar (e guardar) seus primeiros TEXTOS-BASE;

- Já sabe o que se espera de cada etapa do DESENVOLVIMENTO

de um conto;

- E está tomando os CUIDADOS básicos com a narrativa.

Muito bem!!

Vamos tratar de outros tres pontos importantes:

6ª.DICA – A NARRAÇÃO

O forma em que ocorrerá a narrativa, é ponto básico, ou seja, estrutural, para a organização das idéias do autor, bem como para o desenvolvimento da história.

De modo geral, podemos resumir da seguinte forma:

- Narrativas em primeira pessoa:

A personagem principal conta a história. Vejamos:

“O dia mal havia nascido e eu já estava de pé. Pela janela, observei a estradinha de terra que se perdia na cerração.”

Esse é um tipo de narração muito natural. Observe que é exatamente como quando, conversando com amigos, estamos contando uma história ou um acontecimento nosso.

- Narrativas em segunda pessoa:

O narrador é coadjuvante na história. Um exemplo:

“Por mais que me esforçasse, acompanhar o mago em suas caminhadas era, para mim, tarefa ingrata. Suas passadas eram suaves, porém firmes, e o levavam velozmente por entre trilhas, mergulhando na mata e na noite.”

Essa narração é mais encontrada em textos policiais ou heróicos, onde o narrador, participando ativamente do enredo, conta os feitos de outra pessoa.

- Narrativas em terceira pessoa:

O narrador é um observador, externo à história. Na prática:

“Deslizou o olhar ao redor. O piso, em tábuas largas, desprendia um odor suave da madeira tratada e trazia ao ambiente ares rústicos de uma época finda. Na sala, jogados por sobre almofadas e sofás de couro, encontravam-se todos reunidos.”

Essa narração é bastante tradicional. Tanto em contos, quanto em novelas ou romances. Nela o narrador, embora não atue, tem a missão de descrever os cenários e a ação das personagens.

As questões psicológicas e emocionais, podem ainda variar dentro do estilo do narrador. Ele pode optar por “conhecer” e, portanto, descrever com detalhes o que realmente se passa com a personagem:

“O medo lhe afetava os ossos. O coração disparava e a mente, à pique, mergulhava em um turbilhão de pensamentos desencontrados.”

Ou apenas especular o que pode estar acontecendo:

“Suas pernas tremiam. Provavelmente nunca sentira tanto medo em sua vida. Imóvel, aparentava estar em um lapso ou, ainda, em colapso”.

Agora, que tal pegar um texto-base, escolher um estilo de narrativa e desenvolver algumas linhas? Mãos à obra!

7ª.DICA – OS DIÁLOGOS

Com freqüência, o contista utiliza diálogos para criar emoções, conduzir um conflito ou induzir à uma reflexão.

Os diálogos podem, inclusive, serem os responsáveis pela caracterização de qualquer das etapas do conto (ambientação, apresentação, condução e significação), sendo mais raro para a ambientação.

De um modo simplificado os diálogos podem ocorrer em:

- Discurso direto

É o mais comum. As personagens conversam entre si, de modo direto. Os diálogos são expressados no texto através dos travessões. Vamos ver:

“- Se você não me ajudar, eu não vou agüentar! – insistiu.

- Não está sendo fácil... – respondeu; para em seguida cerrar os olhos e suspirar profundamente.

- Você age como se o tivesse amado mais do que eu. Como se sua perda também não fosse a minha perda!”

- Discurso indireto

Nesse caso, os diálogos são “absorvidos” pela narrativa, e transparecem como fatos em meio aos acontecimentos. Exemplos:

“Do outro lado da rua seus olhos fogueavam, atravessou esbaforido e gritava da oportunidade perdida. Paulo falou do bonde e do pacote. Não adiantou, por ele atracavam-se ali mesmo!”

“Embora dissesse que não iria mais, ele insistia. Falava de belas paisagens e de romance. Seus olhos brilharam e ela se calou.”

Existem ainda outras possibilidades mais complexas como Fluxo de consciência, caso em que a personagem conversa com o seu “Eu interior”, do tipo:

“O telefone estava tocando... “Você não vai atender vai?”

Tola, atendi.”

Agora me ocorreu uma coisa curiosa. Em meus textos-base, não tenho diálogos diretos... Vocês têm?

8ª.DICA – O USO DO TEMPO

O uso do tempo, em textos de qualquer natureza, requer atenção.

Se a história já aconteceu, a narrativa deve ser feita no passado. Se está acontecendo, a trama deve ser desenvolvida no presente e, se ainda não ocorreu, deve ser tratada no futuro.

Como todas as dicas anteriores parece óbvio, mas não é. Outro ponto importante, é que o contista deve decidir em que tempo o conto ocorre para facilitar o desenrolar da trama e das próprias idéias. Veja um exemplo:

PASSADO: “A edificação ERA rara e impressionante. Os tetos azulados que DESCIAM até os cunhais, ATRIBUÍAM linhas românticas à imponência gótica da arquitetura.”

PRESENTE: “A edificação É rara e impressionante. Os tetos azulados que DESCEM até os cunhais, ATRIBUEM linhas românticas à imponência gótica da arquitetura.”

FUTURO: “A edificação SERÁ rara e impressionante. Os tetos azulados DESCERÃO até os cunhais e ATRIBUIRÃO linhas românticas à imponência gótica da arquitetura.”

Há composições que suportam mais de um tempo. Entretanto requerem prática, atenção, e a inserção dentro de um contexto que justifica a narrativa dessa forma.

No começo é melhor evitar os equívocos...

Muito bem! Nas DICAS 9ª. e 10ª., escreveremos e revisaremos (juntos) um pequeno conto passo à passo. Até lá!!

ESCREVENDO CONTOS EM 10 DICAS

“O intuito desse trabalho não é ensinar alguém a ser escritor. Nem reciclar escritores constituídos. Mas levar singela contribuição àquele que inicia seus primeiros passos no intrigante gênero da narrativa curta e intensa.”