SEPARANDO O TRIGO DO JOIO
Hoje logo cedo, ao passar pelas "patas de vaca" da minha rua, percebi que mais um ano já havia passado desde que as descrevi por aqui...floresceram novamente, em tons pastéis...num espetáculo de encher os olhos.
E um sentimento me veio instantaneamente, o de que nossa vida é muito parecida com a natureza, aonde às vezes a beleza embora efêmera, breve, e inesperada, quando nos chega é extasiante!
E n'algum dia...sempre retorna.
E eu que tenho por hábito pensar muito, pois estar na vida aguça o pensamento, sempre me questiono sobre as mudanças, os ciclos, os ganhos as perdas e as pseudo perdas que acontecem na nossa existência.
Digo pseudo perdas porque não são poucas as vezes em que pensamos perder e na verdade ganhamos muito!
Porém, o inverso também está valendo.
Mas, ultimamente percebo que a despeito de tantas inovações tecnológicas e sociais, os tempos estão mais difíceis.
Tempos de muito joio, eu diria!
Hoje uma amiga me dizia que tem se perguntado se foi ela quem mudou e hoje enxerga melhor o mundo, se são os fatos que são noticiados com mais ênfase, ou se realmente as coisas mudaram muito.
Também sempre me pego com o mesmo questionamento, mas ponderei melhor a assertiva número três, embora o dinamismo do todo possa colaborar para o "susto'" de se enxergar um novo cenário, uma nova realidade quase que de repente.
Ainda nessa semana ouvi um religioso falar na virtude da paciência, e achei muito interessante quando ilustrou seu pensamento com a paràbola Bíblica do Evangelho de Mateus 13 (11-15), que fala na separação do joio do trigo.
Separar o JOIO DO TRIGO não é apenas um dito popular.
É uma lição de vida! E nada fácil!
Na verdade achei espetacular a comparação porque é exatamente assim que tenho sentido o caminho pela vida: Cada vez mais o desenvolvimento da percepção e da paciência para se separar o joio do trigo...e não se enganar.
Os trigais sempre estão no nosso entorno, ao alcance das nossas mãos, para a satisfação das nossas necessidades humanas essenciais, sem dúvida, mas há que se ter sabedoria para identificar e arrancar suas ervas daninhas.
E conforme ensina a parábola há que se esperar que o joio cresça para o identificar com segurança, sob a pena de danificarmos o trigo.Daí o exercício da paciência.
Trata-se, portanto, duma prova de resistência.
É assim em tudo na vida!
Talvez seja por isso que cada passo ocorra a seu tempo.
É preciso que os olhos amadureçam para também se enxergar o joio.
No pensamento, nos sentimentos, na sociedade, na política, nas amizades, no trabalho, no juízo de valores, na família, há que se estar sempre alerta para com sabedoria se fazer a devida separação.
Porque o joio nos confunde, nos induz ao erro, posto que é incrivelmente semelhante ao trigo.
E eu falava nas "Patas de Vaca', naquelas árvores florais maravilhosas, que me inspiraram o pensamento.
Um trigal da minha rua em meio ao joio da poluição da cidade.
Um presente cíclico que enfeita com ares primaveris o íntimo dos invernos desse nosso atual cenário de inversões!
E não só das inversões térmicas.
Inversões que nos obrigam agora, a separar o trigo do joio.
Num terreno tão propício para a disseminação das ervas daninhas, o trigo espera pelos nossos olhos de lince, e pelo adubo dos nossos corações.