CAPITALISMO LATO SENSU

Não há dúvidas de que o acesso ao ensino de nível de 3° e 4° graus tem crescido muito nos últimos anos no país. Há quem diga que isto se deve a um acordo feito com o FMI, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, para que se desenvolvesse políticas que possibilitassem dados estatísticos que mostrassem aumento do número de brasileiros alfabetizados e de matriculados ou concluintes de cursos em todos os níveis de ensino.

Como conseqüência desse acordo teriam surgido políticas na área de educação voltadas para a apresentação da elevação numérica de alfabetizados e concluintes do ensino fundamental, médio e de 3° grau, sem a preocupação com a qualidade do ensino – a preocupação seria com os dados estatísticos que demonstrem crescimento do número de pessoas formadas em todos os níveis. Em resumo: há uma priorização dos dados quantitativos em detrimento dos dados qualitativos. Esta seria uma das causas de proliferação de escolas particulares de todos os níveis, incluindo as de nível superior, consideradas como instituições filantrópicas para fins de relação com o fisco.

Paralelo ao crescimento dos cursos de graduação observa-se também um crescimento, quase na mesma proporção, de cursos de especialização lato sensu em escolas privadas e públicas (nestas, são promovidos por “entidades sem fins lucrativos” internas e pagos, tais quais os cursos de estabelecimentos privados). Trata-se de um ramo do mercado do ensino que avança vertiginosamente. Vale dizer que, no sistema capitalista, todo ramo do mercado que apresenta crescimento signficativo indica, obviamente, tratar-se de atividade amplamente lucrativa.

Comenta-se sobre a existência de estabelecimentos privados, em vários pontos do país, que se especializaram em fornecer cursos semipresenciais de especialização lato sensu que, na prática, chegam a dispensar a presença do aluno, bastando que este se matricule e pague rigorosamente em dia as mensalidades. Haveria nesses estabelecimentos, inclusive, equipes de especialistas em elaborar os trabalhos acadêmicos, mediante um pagamento extra por parte do aluno para facilitar-lhe a conclusão do curso.

Não há como negar que o mercado está recheado de cursos de pós-graduação lato sensu. É claro que nem todos são nos moldes daqueles citados no parágrafo anterior e que os comentários insistem em confirmar que existem. Há cursos bem organizados, com grade curricular bem elaborada e com equipes de professores bem preparados, porém, todos tem custos relativamente elevados para o aluno. Trata-se, com já dissemos, de uma atividade altamente rentável para as instituições que os promovem, sejam elas públicas ou privadas.

O ingresso nesses cursos quase sempre está vinculado a um levantamento socioeconômico do candidato, que demonstre que ele pode pagar pelo curso, além de provar possuir graduação na área e alguns outros documentos complementares. Ao que parece, a oferta tem crescido acima dos índices de procura (muito embora os custos continuem elevados); são conhecidos casos recentes de alguns desses cursos, inclusive os de “entidades sem fins lucrativos” em universidades públicas, abrirem inscrições e não conseguirem o número mínimo de candidatos inscritos necessários para os cursos funcionarem.