A busca da felicidade

Por que buscamos a felicidade?


Será que o ser humano sabe o que é felicidade? Creio que ele sabe superficialmente, e de alguma forma, já experimentou, mas não a conhece plenamente. De um modo simples poderíamos falar que a vida é uma busca pela felicidade, não a felicidade. A felicidade sempre foi e será o centro das discussões religiosas, filosóficas, psicanalíticas e também faz parte de uma lucrativa indústria: a da auto-ajuda.

O ser humano busca aquilo que ele não tem e a felicidade é a busca de todos. O VAZIO PRIMITIVO DO SER HUMANO impulsiona o indivíduo a buscar uma completitude insaciável. Esse VAZIO PRIMITIVO DO SER HUMANO é a fonte de todo sofrimento e a causa da busca de uma plenitude que chamamos de felicidade. O VAZIO PRIMITIVO é imensurável, não existe completitude, por isso, abriga as mazelas e as riquezas do ser humano.

O VAZIO PRIMITIVO DO SER HUMANO começa a ser notado quando a criança passa a ganhar consciência da realidade e sentir necessidade de satisfação de suas exigências objetivas e subjetivas. Muito embora, no período de inconsciência, quando prevalece o instinto, ou seja, naquele período que a criança ainda não adentrou ao mundo da consciência, a proteção, o carinho e um ambiente salutar fazem parte da satisfação de suas necessidades e com conseqüências posteriores. Dentro do VAZIO PRIMITIVO DO SER HUMANO cabem todos os sonhos e todas as necessidades, envolve todos os meios de relacionamentos e a sua dimensão é a dimensão de cada um.

A felicidade é uma busca mista nos humanos. Por que mista? Porque temos consciência dela, e ao mesmo tempo, é instintiva porque faz parte de um fator inato do comportamento humano. O instinto animal é apenas de sobrevivência e reprodução e o seu aprendizado está limitado à capacidade de sua espécie. O humano, além do instinto de sobrevivência e reprodução, possui o instinto da busca, que apesar de ser um valor inato da espécie, ele se manifesta de maneira diferente em cada pessoa.

Devido a unicidade do ser humano, da indimensionalidade e a subjetividade das buscas, a nossa vã racionalidade torna-se incapaz de compreender em plenitude o que é a felicidade. Filósofos, religiosos e cientistas criaram conceitos, definições e tentaram explicar e ensinar o que é felicidade. Religiões como o Cristianismo, antes de explicarem, criaram o preceito de que a felicidade está além da vida, que o sofrimento seria uma forma de conquistar a felicidade. Se isso não explicou, pelo menos criou um lenitivo para o ser humano, na qual a fé e a resignação seriam maneiras de conseguir a felicidade. A filosofia clássica e erudita, seja ela antiga ou moderna, apesar das escolas e posições contraditórias, tentou explicar, sem muito sucesso, para poucos privilegiados, o que é a felicidade. A ciência tem usado várias formas para explicar a felicidade, desde os modernos estudos da neurociência, tentando mapear os sítios cerebrais responsáveis pela felicidade e entender os mecanismos neuroquímicos do cérebro humano, até as bases genéticas da felicidade defendida por David de Lykken. Freud, o maior estudioso da psique humana dos últimos tempos, teria dito que a psicanálise até pode resolver os problemas da miséria neurótica, mas ela pouco pode fazer contra as misérias da vida como ela é. A auto-ajuda fez uma síntese de vários estudos, tornou tudo isso digerível às modestas compreensões e usando palavras com elevado poder de persuasão para convencer os mortais de que a busca da felicidade depende, única e exclusivamente, de cada um.

Experimentamos uma aparente felicidade quando os nossos instintos de sobrevivência e reprodução são saciados, mas, a vida humana vai alem desses rudimentares instintos animais. Ao longo da vida, quando sentimos o nosso VAZIO PRIMITIVO parcialmente preenchido, temos uma sensação passageira de plenitude e saboreamos momentos de felicidade. Como a vastidão do mundo cabe dentro do nosso vazio, logo, teremos a sensação de falta, de ter que suprir a sempre crescente necessidade e nos lançamos novamente à insaciável busca. A felicidade não é eterna, muito menos passageira, ela poderá manifestar com maior ou menor intensidade dependendo de nossa auto-percepção e da concepção que temos da vida e do mundo. A felicidade não é uma promessa, muito menos uma conquista, ela é um estágio passageiro e repetitivo, que aparece quando as nossas necessidades instintivas ou idealizadas são satisfeitas.

O ser humano, na história da humanidade evoluiu nos mais diversos campos de atuação. Os objetivos das buscas e as necessidades não são as mesmas através dos tempos, mas, a necessidade primordial, ou seja, a necessidade de continuar buscando é, e sempre será, a mesma. O mais abstrato e o mais almejados dos sentimentos, o da felicidade, continuará uma mistura de sonhos e realidades e nessa mistura sempre haverá espaço para tudo.

Por que uso a expressão VAZIO PRIMITIVO? Vazio porque esse reservatório está sempre incompleto, se um dia ele for completado, apagará a chama que move os humanos: a busca. Primitivo porque ele é um instinto, e o instinto, como característica inata da espécie, não evolui. Podemos assim dizer que a vida é uma busca por felicidade e o dia que felicidade for plenamente conquistada não haverá mais necessidade de busca, e aí, a vida não terá mais sentido.

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