A criatura
Quando os séculos ainda não tinham substância e o planeta Terra ainda se encontrava sem forma dentro do ovo primordial, uma decisão foi tomada:
- «Deixemos o Caos reinar. Observemos o decurso da História».
Então Deus disse: - «Faça-se luz»
Com esta ordem o ovo explodiu, espalhando a sua mensagem num espaço que ele próprio criava à medida que ia crescendo.
Eons passaram-se, e as fantásticas temperaturas criadas pela explosão foram diminuindo, a matéria foi se agregando em colapsos gravitacionais. Inimagináveis são as dimensões do que estou falando. Primeiro criaram-se os clãs, cada clã constituído por várias famílias, cada família por várias galáxias e em cada galáxia surgiram vários berçários de Estrelas e num destes berçários nasceu o nosso SOL e com ele o planeta Terra
E então o planeta nos inventou. E nós inventámos uma perplexidade, e esta perplexidade criou o medo, e o medo inventou deuses, e os deuses inventaram-nos uma inteligência racional, que logo os negou inventando a pergunta : “QUEM SOU?”
Ao tentarmos responder a esta questão, nos afundamos nos tortuosos caminhos da ignorância, mas como que por magia, ao procurar resposta a esta questão, respostas a outras vão surgindo, e com elas nasce um emblemático sentimento de que somos donos do Universo.
Deus, ao observar a Sua obra, viu num pequeno canto de uma pequena galáxia, algo que O deve ter “assustado”: uma frágil criatura com a capacidade de inventar Deus.
Aí os anjos vieram, vieram para nos ajudar a retornar ao caminho do Caos, onde o desequilibro de forças e a impredictibilidade dos resultados, geram evolução.
Mas aquela inteligência racional inventada, questiona O próprio Deus: «Se tudo o que existe necessita de um lugar onde existir, em que lugar estaria Deus quando ordenou a criação de tudo?».
Esta questão nos leva à compreensão de que somos animais relativos, presos num sistema fechado e limitados pelo sensorial. E esta compreensão nos leva à revolta, e essa revolta nos leva a querer sair das fronteiras designadas pelo Caos e a querer pular a cerca para o quintal do Divino Vizinho, lugar onde poderemos também ser divindades.
Assim, o Homem responde à questão do “QUEM SOU?”, assumindo uma posição de amado por Deus, convicto que um dia navegará pelo cosmos, e que encontrará a tal fronteira, que depois de ultrapassada, lhe dará a oportunidade de encarar o seu Criador, e em animada cavaqueira Lhe perguntar “PORQUÊ?”