A revolta das palavras
Preocupado com o sentido exato que daria às suas poesias, o poeta examinou atento cada palavra e sua aplicabilidade. Buliu com elas. Revirou-as de um lado para outro, virou às avessas cada uma. Notou, com isso, que escrever era arte complicada e exigia muita perícia e pesquisa. As palavras passaram a poder ter diversos significados dependendo da conotação que o poeta queria dar ao texto. Sentiu-se mal em expô-las a tal situação de inconveniência e dúvida, mas era necessário colocar tudo em pratos limpos. Elas, as palavras, não gostaram de estar sendo assim remexidas. Num verso solto no meio do poema pareciam saltar com medo do que viria a seguir. Mas o poeta as fez resistir e tentou minimizar o impacto de tantas interpretações com sentidos e significados tantos. Tratou, o escritor de apenas qualifica-las com modestos adjetivos suaves acreditando que assim todas as palavras do texto passariam a trabalhar a seu favor. Ledo engano. Elas sentiram-se subjugadas, menosprezadas pelo autor e trataram de se rebelar largando-se pelos versos de maneira aleatória e quase provocando falta de sentido ao poema. Não fosse a habilidade do profissional que as criava, elas teriam exercido total comando sobre o trabalho que estava sendo executado, mas o poeta as cercou de advérbios e ornou as ações com imagéticos verbos transitivos dando um complexo parâmetro estratégico para poema. Foi assim, com essa luta travada de difícil resolução, que finalmente o poeta conseguiu colocar o ponto final em seu trabalho.
Ufa!