Cidades Inventadas – Ferreira Gullar
O misticismo, o progresso e a decadência nas cidades inventadas por Ferreira Gullar
Ferreira Gullar, em sua obra Cidades Inventadas, faz uso de sua fértil imaginação e criatividade para criar cidades diferentes, mas que sempre tem alguma coisa em comum entre si. Cada conto retrata uma cidade com suas características particulares, mas essas características são recriadas de lugares já existentes na história. Ao lermos cada conto, encontramos características históricas, geográficas, climáticas e econômicas de lugares verdadeiros.
O autor descreve cidades lendárias, em que o misticismo, o progresso e a decadência estão fortemente presentes. Em “ODON”, Ferreira Gullar retrata uma cidade mística, onde o fato de os habitantes contrariarem a ideologia de Igork, deus do tabaco, o qual era cultuado pelos moradores, resulta na decadência do lugar.
“ Um vento escuro e quente soprava rasteiro, torrando as ervas. Era o hálito de Igork, indignado. Os pássaros da cidade começaram a fugir, aos bandos, como lhes oredenara Igork, e foram pousar em suas torres. Os habitantes corriam, sufocados, de um lado para o outro, sem sabedoria.” (p2,3)
Algumas cidades inventadas pelo autor têm uma história de progresso ou decadência, às vezes as duas coisas. São cidades que iniciam uma época de progresso e depois começam a decair ou que começam na miséria e depois progridem de forma inesperada. Alguns trechos exemplificam essa afirmação:
“Filha do trabalho escravo, ela cresceu e progrediu com o suor dos negros até que um dia, entregue unicamente àqueles que se diziam seus senhores, começou a morrer. E está morta agora.” (A lminta, p.13)
“Onde hoje é Inoa, havia apenas meia dúzia de casebres quando, certa manhã, três homens desceram de um carro, ali, e começaram a explorar o terreno, a falar e a tomar notas. Um mês depois chegavam as máquinas de terraplanagem, as misturadoras de cimento, e começou-se a construção da fábrica de tecidos.” (Inoa, p59)
Enfim, Cidades Inventadas recria lugares e características já existentes na história do mundo. O autor através de seu conhecimento de mundo, inventa essas cidades de forma que pareçam reais, citando inclusive obras e autores que não existem. Mas os contos tornam-se repetitivos, justamente por possuírem essas características iguais.