O ENIGMA DA ESFINGE MODERNA: A MORTE DE DEUS

Nietzsche é, quiçá, uma das maiores figuras do pensamento da segunda metade do século XIX. Sua crítica dirige-se a toda cultura ocidental que está arraigada de uma metafísica que se radica em Parmênides, Sócrates e no platonismo. Se para os filósofos antigos tradicionais, a questão substancial era a verdade, para Nietzsche, o verdadeiro valor não se pauta no aspecto antológico, isto é, “reconhecer como objeto o ser mais alto e perfeito do qual dependem todos os outros seres e coisas do mundo” (Abbagnano 1960, p. 633), mas no aspecto axiológico, na teoria dos valores. O pensamento do filósofo caracteriza-se pela radical contestação da racionalidade na cultura do Ocidente, ou seja, pela tradicional noção de verdade, entendida como acordo entre o pensamento e a realidade.

Para Nietzsche, o problema não é saber se Deus existe ou não, mas se Ele está vivo ou morto, se ainda o mundo é organizado ou não em torno da idéia de Deus. Isso porque as inquietações dos espiritualistas desestabilizam o ser humano em sua existência social. Sabe-se, no entanto, que com o domínio da técnica o homem sente-se seguro e preenche essas dúvidas teleológicas. Este é o perigo que está intrínseco à modernidade de que o homem é tudo e Deus é nada. Nesse contexto o ser humano passa a ser gravidade de tudo o que existe, valendo a máxima de Protágoras de que “o homem é a medida de todas as coisas”. Ao refletir sobre a modernidade que pôs toda a sua confiança na ciência, está dá a sensação sobre a vida limitando o homem até a morte.

A modernidade é caracterizada pela exaltação da vida mundana, acentuado sensualismo, mundanização da religião, tendência pagã, liberdade ante as autoridades que haviam dominado a vida espiritual no passado. Pode-se dizer que é um Humanismo, pelo fato de reconhecer o homem em sua totalidade, e a tentativa de compreende-la em seu mundo, que é o da natureza e da história. Sua dignidade e liberdade é o lugar central na natureza e o seu destino é ser dominador da própria natureza.

O que seria do homem sem um “porto seguro?”. Assemelhar-se-ia um horizonte que fora apagado com uma esponja, para Nietzsche é o mesmo que dizer que “Deus morreu” representando o desmoronamento da fé em algo superior ao homem. Sem a base do existir o ser humano sente-se desorientado e acabará experimentando a angústia que atinge substancialmente o ser: a fragilidade do existir humano. Segundo Nietzsche, “ao contrario do que se afirma hoje, a humanidade não representa uma evolução para algo melhor, mais forte ou mais elevado. O ‘progresso’ não passa de uma idéia moderna, ou seja, de uma idéia falsa. [...] Desenvolver não significa forçosamente elevar-se, aperfeiçoar-se, fortalecer-se”.

O pós-modernismo caracteriza o século XX como Era tecnológica, isto é, com as mudanças das sociedades que saíram da época industrial se lançam na pós-industrial. Sua característica é o saber cientifico (só possui valor o que as ciências mensurarem), o surgimento da internet, entre outros. Pode-se dizer sem medo que está época pertence ao digital, ou seja, todo conhecimento humano está conservado nas falanges dos dedos. Há um abismo de diferença entre uma sociedade da informação com uma sociedade do conhecimento. No primeiro caso pode-se dizer que os indivíduos estão preocupados em “ver os conceitos” e mensurá-los para depois tecer comentários no que diz respeito a algo, por seu turno, a segunda é o próprio pensar, como reflexão sobre a existência humana e tudo o que ela engloba. Esse é o abismo daquela que quer ser profundo ou parecer profundo, aliás, enquanto uma tenta busca a clareza, a outra busca ser obscura para que as pessoas acreditem ser profundo tudo aquilo de que não se pode ver o fundo.

Por isso, o sentimento que acompanha o homem em todas as circunstâncias da vida é a esperança n’ alguma coisa que dê alívio ao coração, mas isso é a esperança que conduz ao sofrimento, indo em oposição do que realmente significa viver.

Portanto, a crença num ente transcendental está no âmago do ser humano e mesmo que ele evolua nas técnicas essa característica sobreviverá, e será o movente de toda sua vida. Caso a fé numa instituição seja abalada, sua religiosidade em nada mudará, valendo a máxima de Goethe, “sem fé que racional daria seu acento sobre o sobrenatural?”.

Ramires karamázov
Enviado por Ramires karamázov em 21/06/2008
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