ELOGIO A THE TURN OF THE SCREW

Eu faço por aqui um elogio de apreço a Henry james, escritor Americano radicado inglês. Na verdade, não posso ainda fazer um elogio total ao escritor Henry James, posto que ainda não pude contemplar a totalidade de sua obra– fato que não me impede de dizer que ela seja de igual brilhantismo que aquilo que já li. Enfim, não é disso que eu devo falar, dos meus conhecimentos literários, mas sim devo comentar da obra que mais me chamou atenção– o Magnum Opus, The Turn Of The Screw.

Primeiro eu tenho de falar obviamente a sinopse da estória. Uma governanta é contratada por um rico capitalista inglês para cuidar de seus sobrinhos em uma mansão decadente no interior da Inglaterra; mas há uma condição, a governanta não deve incomodá-lo em nada as crianças Miles e Flora, são carinhosos, afetuosos, inteligentes- crianças perfeitas, em suma. Tudo ocorre perfeitamente até que num entardecer a governanta se depara com um homem estranho no alto de uma das torres da mansão, que ela, mais tarde pela boca da empregada, descobre ser Quint, antigo responsável pela casa e que estava morto. Mais além ela descobre que não há somente o fantasma de Quint que ronda a casa; há também o espectro da antiga governanta, Miss Jessel, amante de Quint, que ronda a casa. ambos eram muito próximos das duas crianças. A novela se desenvolve basicamente na mudança de comportamento das crianças ao longo do tempo após a primeira aparição dos espíritos, na mesma medida que a atual governata identifica a ameaça dos fantasmas a Miles e flora.

Para aqueles que não conhecem diretamente esta novela, basta citar que um dos seus maiores admiradores foi o grande titã das letras latino-americanas, o argentino Jorge Luís Borges. Borges afirmava que esta obra é dona de um enredo surpreendente (afirmação da qual eu particularmente não discordo em nada), em razão de ser baseada na dúvida.

A primeira dúvida que considero na obra é uma dúvida temática. Acredito que todos os leitores atentos poderão entender o que eu digo; aos outros, azar. O que une ambos os temas é o óbvio fato de ser uma estória de fantasma, embora bastante fora do comum. Enfim, pode-se apreciar ao refletirmos sobre a obra, é uma narração fantástica? É uma narração psicológica? Fica-se na dúvida, o fato de a narração ter como única via a voz da governanta, o que leva a toda uma série de dúvidas sobre a veracidade total ou parcial dos fatos– conseqüência de uma fala elíptica. A voz da governanta cai em descrédito inúmeras vezes que a descrição chega ao fantasioso, pois ela afirma em inúmeros momentos que é dona de uma imaginação poderosa. Óbvio que se pensa, ainda mais pelo fato de se observar que somente ela contempla os fantasmas– excetuando as crianças, das quais posso dizer que as falas são excessivamente selecionadas– sendo assim, seria isso somente um desvario para explicar uma situação comportamental posterior das crianças inicialmente angelicais? Ou será que a voz da senhora grose, empregada vitoriana e reprimida, sancho pança nessa luta contra o mal que acerca e avança, percebeu realmente a ameaça que a governanta diz existir e que as crianças parecem sempre refutar a existência mas parecem estar sempre se aproximando conforme pioram de comportamento.

Por sinal, é necessário, acredito, dar uma especial atenção, ao precedente da heroína. O caráter elíptico de sua narração contém muito de um pano de fundo sexual, ou sexualizado, porém sutilmente tratado. Óbvio que isso é uma repercussão lógica do passado psicológico da moça: é filha de uma pároco, o que já incute numa significativa repressão na questão da sua sexualidade e reforça muito o caráter do decoro feminino que ela deve apresentar, ainda mais se tratando de uma mulher vivendo em pleno período vitoriano no Reino Unido. A associação desse quadro mental, uma mulher imaginativa e de psiquê reprimida, como já mencionara Jorge Luís Borges, ao fato de as crianças passarem a se comportar mal de repente, é uma explicação quase plausível.

Então, por conta do excesso de descrição psicológica íntima, associada a apresentação dos supostamente factíveis fantasmas, da piora do comportamento dos infantes fica-se na dúvida do real contexto da estória. Os fantasmas são reais e possuíram as crianças? pode ser. é tudo fruto de uma imaginação deturpatada pelo tempo de uma mulher vitoriana reprimida? Pode ser também. A hipótese também tem sua existência pois a obra surgiu no meio do processo de desenvolvimento da psicologia e da psiquiatria freudianas.

Acredito que The Turn Of The Screw deve para sempre ser dado como um dos livros canônicos da literatura psicológica e de terror do ocidente e do mundo. Em primeiro lugar pela estranha força que há no seu horror psicológico: uma ameaça iminente, real ou não ( uma dúvida que destrói os nervos), a duas crianças inocentes que a todo instante mostram-se cada vez mais possuídas pelo mal que as ronda– pois há poucos horrores mais intensos e petrificantes à humanidade que o de algo dominar nossas crianças, tomá-las e possuir-lhes as almas (como comprova o clássico da ficção científica e também do terror Midwich Cuckoos). É preciso grande perícia, capacidade de revisão, para não tornar este um tema aberrante, frívolo ou grotesco; pois todo o tema que envolve os tabus secretos da mente ao serem tratados são de difícil e trabalhosa organização, quero dizer, são de difíceis de tornarem-se uma grande obra sem o trabalho extenuante que eram capazes Flaubert e Henry James e outros titãs do movimento realista europeu.

É inacreditável a dúvida. Acredito que muito daquilo que a humanidade escreveu de melhor está de certo modo ligado a dúvida que permeia as palavras do texto, ou seja, dos diferentes níveis de leitura que podemos abstrair de cada vocábulo. A dúvida é o instrumento mais perfeito e mais difícil de se trabalhar no horror, pois precisa ter uma quantia muito próxima de dados que possam se opor e se contradizerem– criando assim o embate psicológico que o homem apresenta antes de enlouquecer diante das forças supremas e ignotas do universo. A dúvida é também a pedra fundamental da grande prosa moderna do século XX no âmbito social, pois ela está diretamente ligada ao mundo social urbano, posto que a sociedade burguesa está sempre ligada aos segredos sórdidos de cada homem, às máscaras sociais, a incapacidade de cada ser humano compreender o outro, a ~precipitação que temos do pensamento de outros. Somente para citar alguns grandes exemplos de dúvida que se torna presente nas falas, tendenciosa ou não, temos Proust, Henry James, Rubem Fonseca e, o titã brasileiro, Machado de Assis. Acredito que bastando citar estes exemplos e mostrando o caráter dúbio do Magnum Opus de Henry James, eu possa ter expresso minha idéia– eu acho…