OS RESQUÍCIOS DA GUERRA FRIA EM PLENO SÉCULO XXI
Desde os tempos da Guerra Fria (1945 a 1991), datas respectivas do fim da Segunda Guerra Mundial e fim da União Soviética, a palavra socialismo tem sido difundida como sinônimo de políticas contrárias à liberdade e aos direitos ao exercício da cidadania. Trata-se, evidentemente, de um mecanismo ideológico das elites para atacar e tornar impopular um projeto de regime político sem diferenças sociais, igualitário, justo; esse processo não acabou: Hugo Chávez, presidente da Venezuela, é a vítima mais recente.
Durante a Guerra Fria os EUA investiram maciçamente no marketing contra a ideologia socialista, foi a chamada “Indústria Anti-comunista”. Criou-se ditaduras alinhadas com os governos estadunidenses, especialmente nas Américas do Sul e Central, após a derrubada de governos que apresentassem quaisquer posturas que pudessem ser identificadas ideologicamente com o socialismo.
Vejamos dois exemplos: No Brasil, João Goulart foi derrubado em 31/03/1964 por, dentre outros motivos, tentar governar mobilizando as massas populares em freqüentes comícios públicos, para tentar influenciar o Congresso Nacional, onde não tinha respaldo da maioria dos parlamentares. No Chile, Salvador Allende, foi destituído do poder e morto por tropas golpistas em 11-09-1973; Allende, ao assumir o governo do seu país, nacionalizou todas as companhias estadunidenses exploradoras de cobre ali existentes. Os militares chilenos, sob o comando do general Pinochet, perpetraram o golpe com apoio da iniciativa privada estadunidense e da CIA. Em ambos os casos os golpes foram precedidos de uma intensa campanha contra os governos que seriam derrubados.
Ainda hoje há um patrulhamento contra a ideologia socialista, sob os auspícios da grande mídia. Fidel Castro vem sendo atacado desde 1959 e igualmente sofre Kim Jong II, por contrariarem os interesses dos EUA. Quanto a Hugo Chávez, sua primeira grande provocação aos ianques foi logo no início de seu primeiro mandato, por ter-se reunido com representantes de países produtores de petróleo considerados inimigos dos estadunidenses, procurando negociação sem o aval de Washington. A sua mais recente provocação é a proposta de unificação das forças socialistas, que o apoiaram na reeleição, numa única agremiação: o Partido Socialista Unido da Venezuela.
Por que a grande imprensa não faz alusão a George W. Bush como um tirano que tenta exercer seu poder para além das fronteiras do seu país? Simplesmente porque há uma correlação entre a ideologia defendida pela imprensa burguesa e o imperialismo ianque. Bush é um tirano travestido de democrata (não confundir com membro do partido democrata oposição ao seu partido republicano).
Chávez tem sido um herói ao sobreviver à enxurrada de ataques; conseguiu se reeleger diante de uma oposição ferrenha com suporte externo. Ressalte-se que socialismo, per se, não é ditadura, ao contrário, é liberdade. A tirania é o poder alicerçado e exercido em função do desrespeito aos direitos de uma maioria, seja de ideologia capitalista ou de uma suposta tendência socialista – a maioria que reelegeu Chávez, com certeza não o considera tirano, mas ainda assim ele é atacado por uma imprensa que jamais tacharia Bush de opressor.
Karl Marx cometeu o pecado de cunhar a expressão “Ditadura do Proletariado” para denominar um regime socialista, voltado para os interesses da classe trabalhadora, de transição para uma sociedade totalmente livre e solidária, que seria o regime comunista. Nunca existiu no mundo um regime comunista tal qual Marx preconizou.
A palavra ditadura foi tomada propositadamente pelos seus opositores como sinônimo de autoritarismo; sua expressão viria a ser associada ao regime soviético no período de Stalin e outros ditadores que o sucederam: a Guerra Fria conseguiu mudar semanticamente o sentido do vocábulo socialismo e até hoje sua essência ainda permanece viva em críticas a governos que propõem políticas contrárias a interesses das elites.
A imprensa burguesa, que ainda alimenta resquícios da Guerra Fria, não comenta as atrocidades cometidas por Bush, que pousa de juiz do planeta terra; sequer comenta a falta de liberdade do povo estadunidense de criticar o seu próprio governo sem correr o risco de ser tachado de simpatizante da Alqaeda.