O Poder das Fábulas
Fábula é uma pequena narrativa, uma ficção ale-górica, em que se sugere uma verdade, um preceito moral, com intervenção de pessoas, animais e até entidades inanimadas. La Fontaine, o mas conhecido fabulista do Ocidente, esclareceu que: “Fábula é uma narrativa na qual, sob o véu da ficção, vai envolta a moralidade, e cujas personagens são, ordinariamente, os animais.”
Podemos encontrar nas fábulas, além de seres humanos e animas, rios, montanhas, florestas, oceanos, inclusive objetos inanimados. Ou seja, tudo quanto a inspiração do narrador possa revestir de simbolismo, com o objetivo de enfatizar um ordenamento moral.
As fábulas surgiram há muitos séculos, pro-vavelmente em virtude da necessidade de se incutir nas pessoas uma série de preceitos morais. A verdade é que as pessoas não gravam facilmente os ordenamentos morais de forma racional; assim, é preciso desenvolver uma estória plena de emoção para alcançar o objetivo.
Entre os fabulistas mais conhecidos e consagrados, podemos citar Esopo, La Fontaine, Pilpary, Fedro, Lessing, Samaniego, Iriarte, Florian, Kriloff, Ramakrishna e Fonseca Jordão. Entretanto, muitas fábulas são encontradas nas tradições russa, portuguesa, inglesa e francesa.
A título de ilustração, vamos relembrar algumas destas magníficas narrativas, começando com “A barriga e os membros”, de Esopo:
"Nos tempos antigos, quando todos os órgãos do homem não trabalhavam juntos de forma amistosa com que trabalham hoje, tendo cada qual sua vontade e fazendo o que bem lhe parecia, os membros começaram a se aborrecer com a barriga porque ela passava o tempo em ociosa satisfação, enquanto todos os demais trabalhavam para sustentá-la, atendendo às suas necessidades e prazeres. Assim, resolveram conspirar a fim de cortar as provisões que lhe entregavam para o futuro.
As mãos já não deviam levar a comida à boca e a boca não devia aceitar alimento, nem os dentes mastigá-los. Não havia muito que tinham posto em prática essa idéia de fazer a barriga passar fome com a intenção de dominá-la, quando todos começaram, um por um, a se sentirem frouxos e fracos, espalhando-se essa fraqueza mortal por todo o corpo.
Então os membros se convenceram de que também a barriga, volumosa e inútil como parecia ser, tinha uma importante função. Viram que não podiam passar sem ela, como ela própria não podia passar sem eles, e, que se quisessem ter o corpo em estado saudável, deveriam trabalhar juntos, cada qual em sua esfera particular, para o bem comum de todos."
Moral da estória: Sozinhos, nada somos e nada valemos.
A seguir, uma fábula de Samaniego, A macaca e a noz verde:
"Certa macaca, muito alegre e ágil, viu nozes numa velha nogueira e pelos galhos subiu mais que depressa. Apanhou uma das nozes, mas quando quis meter-lhe o dente, verificou que a fruta ainda estava verde e apresentava um sabor muito amargo.
Desanimada, atirou fora a noz, e ali ficou, em jejum, supondo que nada mais encontraria para seu almoço."
Moral da estória: Assim acontece aos que se acovardam logo às primeiras dificuldades que a vida lhes apresenta.
E, para rematar, uma de Iriarte: A rã e a galinha:
"Certa vez uma rã, que passava a vida a coaxar em altos brados à beira da lagoa onde morava, ouviu o cacarejar de uma galinha que andava ali pelas margens.
- Como és desagradável! – gritou-lhe a rã. – Por que fazes tamanha gritaria?
- Porque pus um ovo – respondeu a galinha.
- E, por teres posto um ovo, precisas fazer esse alvoroço todo?
- Fica sabendo que preciso – cacarejou a galinha, indignada. – Eu estou contando ao mundo o que fiz. E tu, que nada fazes, por que estás eternamente a coaxar?"
Moral da estória: Perdoa-se algum barulho a quem produziu algum trabalho, mas quem nada produz deve, pelo menos, produzir silêncio.
Do livro: "A Arte de Viver"