Sobre Um Trecho de Bandeira

E enquanto a mansa tarde agoniza,

Por entre a névoa fria do mar

Toda a minh’alma foge na brisa:

Tenho vontade de me matar!

Felicidade

O Ritmo Dissoluto

Manuel Bandeira

E correndo o livro de poesias, ele pára como quem não quer nada, em qualquer página, nem nada com algo, página que se for, ou algo com nada que possa ser de extrema utilidade, uma página qualquer, lê a segunda estrofe de um poema intitulado pelo poeta de Felicidade, os olhos se perdem nos quatros versos, se perdem na palavra matar, se perdem no labirinto de metáforas, e os olhos, os grandes olhos de poeta o perseguem, os olhos em óculos, os olhos de Bandeira, os olhos do escritor que se omitiu na Semana de 22, o saudoso pneumotórax.

Ele abre a janela, olha para o trafego que lá embaixo correm ruas e cidades, ele sente o frescor do vento da tarde poluída de centro de cidade.

Ele olha para dentro, olha para os olhares, dezenas, de funcionários de repartições de cidades, olha para os holofotes, olha para as estantes que depositados produtos ilusórios esperam ser vendidos, olha no vidro que o reflete, um homem magro, calvo, de óculos, barba por fazer, olha para baixo, sapatos velhos, olha para a cadeira vê o paletó velho, olha para suas mãos e vê mãos velhas e duras, volta seu olhar para a janela, abre, levantando a parte de vidro, dois passos para trás, ouve um grito, corre e salta para os olhares do mundo!

Flávio F Mello
Enviado por Flávio F Mello em 07/06/2008
Código do texto: T1023749
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