A Relação do Escuro com Nossa Mente
Somos seres sensíveis, vivemos de acordo com nossas percepções e impulsos, acreditamos que onde vivemos é até onde podemos perceber e nos limitar a isso, de acordo com a expansão de nossos sentidos, pois vivemos no mundo do ver para crer e não no mundo do crer para ver.
Porém, nossos sentidos não são medidores da realidade, e sim uma conseqüência da mesma, esta que está além dos contornos e gostos, onde nela, não há limites para a consciência humana, pois nela não há a percepção dos sentidos, somente a ciência do ser por si só (antologicamente), o que lhe destrói limites.
Quando estamos numa escuridão total, sem poder ver nada, sem poder perceber a diferença de estar com olhos fechados ou abertos, nossa mente trabalha, em alguns ela “materializa” os seus medos, pois num local desse, qualquer forma é possível, nossa percepção não se limita às formas que vemos, ou seja. Qualquer forma pode existir ali por traz do escuro, essa é a sensação que temos.
Na escuridão, nada possui uma forma, tudo é um mundo a parte e completo em si só. E, quando você está a sós, com nenhum tipo de interferência, seus sentidos não se tornam necessários, pois sua função é perceber o que está afora, entretanto há nada, tudo aquilo se torna você, você e a escuridão se tornaram um só, você alcança um maior nível de consciência, não limitada.
Por não “possuir” um corpo, sua mente se desloca, havendo uma projeção astral, não há mais medo nem obstáculos, pois tudo é você, e você vê tudo em você.
Neste estado sua mente entra em contato com o real absoluto, que é o todo, é uma única coisa sem as limitações dos sentidos. É aí que você pode encontrar o estado de Nirvana, ou a transcendência.
A meditação no escuro trabalha com a consciência em sua forma mais expandida, é a filosofia por traz de Kali, divindade Hindu da morte e da sexualidade.
Ela nos mostra que a morte está associada a isso, pois por meio dela evoluímos, não somos breves, muito menos sozinhos. Nua e Negra, Kali não conhece diferenciação, encarnando a pura consciência, impenetrável, despojada das roupagens transitórias, ela se perpetua em meio à escuridão, sem nenhum condicionamento. Feche os olhos e a encontrará na escuridão de seu próprio corpo, essa é a filosofia sobe o escuro, a encarnação a consciência em sua forma pura.
Por fim, o trabalho com a escuridão envolve auto - conhecimento e transcendência, nos mostrando a irrelevância do mundo sensível, eu nos serve como obstáculo para a compreensão do Uno.