Bipolar estável, saúde mental e luta antimanicomial

Conheço o Roque há anos, mas aprendi muito com ele somente nos últimos meses. Posso até dizer que agora o conheço. [...]Sei, no entanto, que só conheço aquele com quem me encontro, com quem converso e com quem me afeto na relação, e a vida fez com que nos encontrássemos pelas andanças da militância. Quero dizer que aquilo que foge da norma hoje carrega consigo estigmas ainda históricos de um tempo de higienização das ruas de pessoas que causavam estranhamento ou que não estavam enquadradas nas demandas sociais. Demandas nas quais se construíram conceitos sobre o que deveria ser saúde. Esta, no entanto, estava distante para pobres, homossexuais ou estranhos, sendo destinada para poucos. Com a higienização se segrega, segregando se produz mais sofrimento e adoecimento no todo do sujeito: psíquico, bio e social; se entendermos a totalidade da pessoa. Ou seja, não aquele modelo que separa corpo e mente, mas um entendimento de que o psiquismo cria e transforma o organismo bio, este que só tem lugar no social e que é permeado pela realidade de fora. A história do Roque acompanha a história da Reforma Psiquiátrica, ou seja, trata-se de uma pessoa que passa por tratamentos desumanos e segregadores e atinge mais tarde o espaço de tratamento e reconhecimento psicossocial[...]Ana Paula Rabello Soares