ILHA

Havia uma fila de cerca de quinze pessoas na plataforma quatro, da rodoviária, quando o ônibus da Viação Penha, encostou vagarosamente, para o embarque dos passageiros. O motorista puxou o manete do freio de estacionamento, e este bufou e silvou ruidosamente. Então o motor também foi estrangulado. ``Não aborreçam a vovó!`` Disse Christina para as crianças que corriam desassossegadas pela plataforma de embarque. ``Voltarei em duas semanas!`` ``Eles serão obedientes! Vá tranquila que eu e Jorge saberemos como cuidar bem deles!`` Disse a sogra. Uma dessas lembranças teimosas, foi quando ela e a mãe haviam sido despejadas da casinha humilde em que moravam, após a morte do pai. Ele havia sido um humilde pedreiro, cujo defeito era ser caprichoso demais em detalhes, tanto que as suas obras eram demoradas demais. Nunca conseguia acabá-las dentro dos prazos. Pegava uma empreitada aqui, outra acolá, e o que ganhava, mal dava para o aluguel. Ao falecer deixara uma magra pensão para a mãe. Esta completava o sustento lavando e passando para fora. Com a inflação, nunca o dinheiro chegava para o aluguel, que foi atrasando, até vir a ação de despejo. ``Agente Souza! Polícia Federal! Divisão Narcóticos!`` Disse o homem exibindo suas credenciais. ``A Senhorita está presa para averiguações!`` ``Eu?`` Disse a moça incrédula. ``Sim! A senhora mesmo! Queira por gentileza me acompanhar!`` Apontou em direção ao posto da Polícia Federal. ``Mas eu tenho de pegar meu avião!"