O NETO DO SONETO




Se eu faço o que desfaço nada traço
Emendo o que não sei com maestria;
A mão vai destruindo a poesia
E mesmo assim eu sigo ereto, o passo.

Não tendo qualquer forma de compasso,
Eu peço a proteção ao velho guia,
Cadáver que se fez em caquexia
Permite que eu não tenha um embaraço

Fingindo ser demais o muito pouco
Não quero que me mostres nem tampouco
Clareie com verdades este sol.

O filho modernista de Camões,
Aflora em versos tortos aos milhões,
O neto do soneto é o besteirol?



A métrica distorço e sempre invento
Alguma coisa então para criar
E nessa obssessão, um complemento
Eu busco no soneto aliviar...

Camões eu quero ser, não me contento
Na poesia só para enfeitar
Procuro assim momento, por momento
A estética tirar de seu lugar...

Assim vou prosseguindo e procurando
O tipo de soneto que escrevo
E até que me iludo - vez em quando...

Descubro logo após que esse projeto
A quem Camões deixou -  a quem eu devo -
Soneto original.. é só seu neto



MARCOS LOURES
GONÇALVES REIS
Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 08/04/2008
Reeditado em 11/04/2008
Código do texto: T937334
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