Pezar póstumo de um poeta
Excluir assim de minha memória, meu bem
Teu mais belo e encantador semblante
É como lutar com armas que não se tem
Como usar penas ao caçar diamantes.
Esquecer teu sorriso, que mais lindo não tem
E assim, sem remorso, seguir na vida, avante
É como esperar o ônibus que já não mais vem
Como um sentinela socando um comandante.
Deixar que se vá sem eu saber com quem
Nem mesmo pra onde, e tratar irrelevante
É ter o peito dor mortífera e tratar com desdém
Como dar de graça que é de mais importante.
Saber que, um dia qualquer, não está bem
Por mais que então eu me sinta um gigante
E não chorar por dentro, saber do que tem
Pode saber, que envenenaram, meu bem
O meu peito amante.
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Porém, se um dia, eu ver tudo ir pelos ares
Não se espante com meu deslúcido rosto
Nem se deleite por lágrimas salgadas como os mares
Tampouco se surpreenda com um riso tosco.
Não deixe, porém, que eu saia difamando altares
Não repare se, das rosas, eu rogar os brotos
Sou sim, e sempre serei, bem de todos os lares
Desde que de fora não veja algum vidro fosco.
Já vos digo, será como implodir meus pilares
Será como um tombo de um astúcio garoto
Que na hora chora muito, e grita absurdos aos ares
Mas se regenera, e vai aprendendo (bem) aos poucos.
Deixe, apenas, meu bem, que eu saia, aos bares
Cantando e contando o que cantam os loucos
Nem tenha pena, pois sei que apesar dos pesares
Dos meus amores, os que ficam, são poucos...