Morte Em Rosas
Morte em Rosas
Os motivos foram às farpas que as rosas de casa guardam
Rosas que outrora foram banhadas por aquilo que se chamou afeto
E hoje rasgam e dilaceram o interior banhadas em rancor,
Rancor traduzido na forma de sua derradeira decisão...
A decisão de partir e abandonar toda uma jornada
Na qual seus calos já não mais eram o principal obstáculo,
Mas sim seu ultimo vivido suspiro...
Que sufocante sai engasgado de sua garganta.
A aqueles que lhe renegaram o que devia ser concedido por direito,
A aqueles que não souberam retribuir tudo o que foi sincero,
Tão sincero quanto o antigo desabrochar daquelas rosas a muito murchas
Tudo isso pr'aqueles que um dia lhe viraram as costas;
Escutem! Uma voz essa noite se cala, ele não pode mais falar...
E hoje curvam um rosto afogado em lágrimas a quem se vai
Afundado e lívido num sepulcro de onde não há volta!
Terra e pó são as recompensas pela busca do conforto;
Uma busca manchada de sangue e lamúrias afogadas em pranto
Que só cessou com o estrondoso estalo que rompeu o sono dos adormecidos
Marcando sua ida derradeira para a terra do sono eterno,
Na qual embora todos os credos crucifiquem, para ele, era uma terra de alívio
Onde cessaria seu deságüe, aonde ele iria cedente como o rio vai ao mar...
Nadando alado com os peixes sonhosos e despreocupados
Num mar de ondas claras sem nada que o puxasse pr'o engolir
Onde anzol nenhum seja da dor ou do desprezo romperia seu êxtase libertino
E dormiria abraçado deleitando tudo aquilo que aviventou,
Enquanto na superfície... Os lamentos e feridas lhe pareciam eternas,
Mas se mostram efêmeras como o brilho das antigas rosas.
Então uma voz soturna o desperta de todo o caminho,
O que foi peixe agora demônio se torna,
E a água que refresca, agora abrasa sua pele
Ele sente uma ardência e uma dor dilacerante,
Mais forte e sufocante que quaisquer infortúnio em vida,
Agora implora pelo desprezo de ontem amaldiçoando
A dor presente, a queda redente, temendo a miséria futura
Numa queda profunda na escuridão de quem se perde...
N'um lapso de memória ele recorda o motivo do abismo, e da queda
Perder a razão, o instinto, a vida, tudo! Apenas pelo rancor
E da falta de vontade de se continuar ao tempo lutar!
E o pior sentimento veio à tona, tardio, porém eficiente: O Arrependimento
Arrependimento pendente dos perdões que jamais escutou,
Sofrendo um pranto já seco de um caminho que não continuou.
Caindo e caindo no profundo que ganhou, lembrando e lembrando-se da carta que deixou...
"Desqueridas pessoas pras quais falo, sinto por escrever esta carta, de fato seu rancor e culposo sentimento impregnaram em minha carne, cansando assim minha mente.
Eu já não sinto mais em condições de continuar,
busco tanto um abrigo na madrugada onde recebo apenas vozes frias e apegos gelados da solidão...
Vocês mesmo me vendo desabar continuaram a chicotear com seus espinhos cálidos em forma de rosas...
Vocês são a culpa de meu martírio, são a culpa mais intensa de meu sofrer, decaindo junto a seu adultério que me embriaga em lágrimas todo o pranto e vergonha,
vocês não merecem minha vida exposta como um pagão deixado a cruz para que abutres comam suas vísceras, e por isso que agora me vou, partindo sem volta deste lar de desgraças,
sintam minha falta e chorem por não me ter de volta.
Adeus, isto é tudo."
Para: Minha decadente mãe e meu desonrado pai.
*Fruto da parceria com a jovem, porém brilhante Amaya no Yokai, quem me inspirou a escrever novamente, e agora fonte de ostentação de grande carinho.