PRENDAS DOMÉTICAS
Ao raiar de cada dia, ela já desperta acelerada...
Serve o café, troca e leva as crianças à escola...
Cuida do marido e recebe um beijo de esmola...
Faz ou gerencia a limpeza se tiver a empregada...
Cuida do almoço pensando que vai ao mercado,
Faltam produtos que a serviçal não economiza...
Mistura, temperos e as bugigangas que precisa...
Chega marido pro almoço, com cara de atrasado...
Volta da escola o caçula trazendo um bilhete...
Não há acordo, é ela que à reunião comparece...
O marido até iria, mas em suas mãos prevalece...
Só tem uma folga pra novela, criada no porrete...
A sua frustração não é por fazer tudo para tantos,
Mas por fazer e não ser, em tempo, reconhecida...
Faz ameaças e promete, amanhã estou de partida...
Ninguém acredita muito e ela chora pelos cantos...
E assim vai vivendo a vida iludida
Vai sonhando com as farturas da novelas
Ter a posse de uma casa preterida
Ter as mãos e a face assim, mais belas
Vai sonhando aquele beijo apaixonado
Esperando do marido uma atenção
Mas perdoa seu homem tão cansado
Continua comendo ilusão...
É tão bélica em serviço ingrato
Preocupada com o dia seguinte
Vai servindo o alimento pelo prato
Sê nervosa - conta de um até vinte...
Quem exnerga tamanha labuta?
E agradece a essa heroína?
Pois é mãe compreensiva que escuta
E mulher pro marido - que sina...
É uma prenda doméstica é jóia
Valorize a rainha do lar...
Fortaleza e aconchego que apóia
Todo dia é um sol a raiar...
JACÓ FILHO
GONÇALVES REIS