Dueto com Bilac
A Voz do Amor
Olavo Bilac
Nessa pupila rútila e molhada,
Refúgio arcano e sacro da Ternura,
A ampla noite do gozo e da loucura
Se desenrola, quente e embalsamada.
E quando a ansiosa vista desvairada
Embebo às vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura...
É a voz do Amor, que, em teu olhar falando,
Num concerto de súplicas e gritos
Conta a história de todos os amores;
E vêm por ela, rindo e blasfemando,
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores...
A Voz do Amor
Herculano Alencar
E veio cochichar no meu ouvido,
Com sua voz macia aveludada,
Uma estranha história, mal contada,
Que eu, honestamente, inda duvido,
Que tenha, de verdade, acontecido:
“Era uma vez um pobre sonhador,
Que encontrou, em sonho, um amor
Que veio cochichar no seu ouvido,
Uma estranha história mal contada
Em que uma Quimera encantada
Enamorou-se por um beija-flor.
E que o beija-flor, já bem velhinho,
Perdeu um dos seus olhos no espinho
E outro ficou cego de amor.”