Dueto com Bilac

A Voz do Amor

Olavo Bilac

 

Nessa pupila rútila e molhada,

Refúgio arcano e sacro da Ternura,

A ampla noite do gozo e da loucura

Se desenrola, quente e embalsamada.

 

E quando a ansiosa vista desvairada

Embebo às vezes nessa noite escura,

Dela rompe uma voz, que, entrecortada

De soluços e cânticos, murmura...

 

É a voz do Amor, que, em teu olhar falando,

Num concerto de súplicas e gritos

Conta a história de todos os amores;

 

E vêm por ela, rindo e blasfemando,

Almas serenas, corações aflitos,

Tempestades de lágrimas e flores...

 

A Voz do Amor

Herculano Alencar

 

E veio cochichar no meu ouvido,

Com sua voz macia aveludada,

Uma estranha história, mal contada,

Que eu, honestamente, inda duvido,

 

Que tenha, de verdade, acontecido:

“Era uma vez um pobre sonhador,

Que encontrou, em sonho, um amor

Que veio cochichar no seu ouvido,

 

Uma estranha história mal contada

Em que uma Quimera encantada

Enamorou-se por um beija-flor.

 

E que o beija-flor, já bem velhinho,

Perdeu um dos seus olhos no espinho

E outro ficou cego de amor.”

 

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 08/10/2024
Reeditado em 08/10/2024
Código do texto: T8169012
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