CANGAÇO MODERNIZADO

O cangaço não foi exterminado

Até hoje tem gente que ainda mata

Os chefões do poder e da gravata

Tem direito a ter bom advogado

Habeas Corpus pra ele é liberado

Se o juiz não libera se aposenta

Tem quadrilha feroz e violenta

Que até bombas explodem pela rua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

Investindo no seu modernizar

Estudou e cursou filosofia

Com antena, frequência e sintonia

Faz assalto até pelo celular

Escopeta e granada pra estourar

A polícia não vai porque não guenta

Sem preparo, nem boa ferramenta

Esta é a verdade nua e crua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

A justiça protege quem barganha

Com propostas em dólar ou em real

Arquivando seu dolo eventual

No artifício, malícia e muita manha

O bandido de agora não apanha

Que os direitos humanos lhe sustenta

Numa ação coordenada e truculenta

Protelando a um crime que atenua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

Hoje em dia não tem mais parabelo

Carabinas e nem seis trinta e cinco

Explosivo é a chave para o trinco

Trinta e seis e punhal virou flagelo

Ninguém quer mais nem ver papo amarelo

Do conforto o bandido não se isenta

GPS, é suporte que incrementa

Contribui pra que o crime se evolua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

Che Guevara, também foi cangaceiro

Mas não dizem porque era doutor

Fidel Castro, que foi governador

Antes disso, também foi bandoleiro

Hugo Chávez, foi outro arruaceiro

Alcapone, nem mesmo se comenta

Beira Mar, Pinochet, ninguém fomenta

Mas se alguém me aborrece eu sento a pua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

O bandido migrou do matagal

Pra cidade ser chefe de família

Muitos deles estão lá em Brasília

Assaltando, extorquindo, isso é normal

No Senado, roubar é natural

Pois o povo que fique na tormenta

Sal no lombo e chibata com pimenta

Para quem contra ao bando se insinua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

Hoje em dia só tem coronelado

De ministro, juiz e bacharel

Mercenário, tenente e coronel

Livremente atuando em outro lado

Sendo chefes de um grupo renegado

Que os bilhões todo o tempo movimenta

Executam rivais em morte lenta

Na certeza que o crime perpetua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

Atuante o comércio de pessoa

Vende o povo, igualmente os animais

Tem mocinha deixando o lar dos pais

Na ilusão da promessa que ressoa

Ela vai procurar a vida boa

Pra manter este sonho que alimenta

Cai no laço da gangue mais sedenta

Onde o bando real manda e atua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

Hoje o crime já tem seu tribunal

Prende, julga e comanda execução

O controle é da própria facção

Dominando o cerrado e litoral

Um poder paralelo e marginal

Que de sangue, a aldeia pigmenta

Neste caso quem perde, só lamenta

Na esperança que a guerra diminua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

Lampião até hoje é acusado

Não se fala as injúrias que sofreu

Não defendo e nem julgo, quem sou eu

Mas de fato ele foi injustiçado

Após ver o seu pai assassinado

E a polícia servir classe opulenta

Que a história registra e documenta

Discutir este assunto me extenua

Para mim o cangaço continua

Simplesmente mudou a vestimenta.

Troya DSouza
Enviado por Troya DSouza em 29/09/2024
Reeditado em 29/09/2024
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