Dueto com FLORBELA ESPANCA

TORTURA

Tirar dentro do peito a Emoção,

A lúcida Verdade, o Sentimento!

- E ser, depois de vir do coração,

Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,

E puro como um ritmo de oração!

- E ser, depois de vir do coração,

O pó, o nada, o sonho dum momento!...

São assim ocos, rudes, os meus versos:

Rimas perdidas, vendavais dispersos,

Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,

O verso altivo e forte, estranho e duro,

Que dissesse, a chorar, isto que sinto!! FLORBELA ESPANCA

Quem dera, arrancar do peito

Dores minhas que tanto torturam

minha carne, meus ossos, meus sentimentos...

Sinto-me como se eu não fosse eu

E minhas falas, versos, fossem mentiras;

Sinto iludir a tantos, tantas criaturas

Elas falam: Como ela é coração!

Não, Não! Não sei quem sou

Sou falsa voz, falsos versos

Sou tudo, tudo o que desprezo...

Sinto gritar dentro de mim, teus versos

Quando versejas tuas torturas, dores, lamentos

Oh, grande poetisa, sinto-te tão perto

Choro como tu, minhas amarguras

Seguirei acompanhando-te por todas as esferas! Isabel Tânis Cardoso

Dueto que fiz junto homenageando a Grandiosa Florbela Espanca.

Isabel Tanis e Florbela Espanca
Enviado por Isabel Tanis em 26/05/2024
Código do texto: T8071658
Classificação de conteúdo: seguro