Dueto com FLORBELA ESPANCA
TORTURA
Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!! FLORBELA ESPANCA
Quem dera, arrancar do peito
Dores minhas que tanto torturam
minha carne, meus ossos, meus sentimentos...
Sinto-me como se eu não fosse eu
E minhas falas, versos, fossem mentiras;
Sinto iludir a tantos, tantas criaturas
Elas falam: Como ela é coração!
Não, Não! Não sei quem sou
Sou falsa voz, falsos versos
Sou tudo, tudo o que desprezo...
Sinto gritar dentro de mim, teus versos
Quando versejas tuas torturas, dores, lamentos
Oh, grande poetisa, sinto-te tão perto
Choro como tu, minhas amarguras
Seguirei acompanhando-te por todas as esferas! Isabel Tânis Cardoso
Dueto que fiz junto homenageando a Grandiosa Florbela Espanca.