Dueto com Florbela Espanca
Lágrimas ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim! FLORBELA ESPANCA
Sim, houveram tempos de quimeras
Meu coração vivia de sonhos e ilusões
Dancei, cantei, brinquei
Sentia-me amada, querida...
Flores, mar, tudo em minha volta
Tocava amando com verdadeiro sentir
Mas tudo ficou tão distante, muito distante
A vida , aquela vida abandonou-me;
Penso, que há muito não faço por merecer
E minha alma sofre no mais profundo silêncio
As lágrimas estão aqui angustiando-me
Presas, não sei porque;
Calo-me, apenas calo-me
Pois não imaginam o que vai aqui dentro
Penso: Melhor assim! ISABEL TANIS CARDOSO