O BAÚ DAS MÁS LEMBRANÇAS
Domingos de Souza Nogueira Neto, MG, 30/08/2007
Caminhando pela montanha,
Ia de mim abstraído,
Quando um som em língua estranha,
Capturou meu ouvido.
Olhei em volta confuso,
E caído ali no chão,
Vincado por anos em uso,
Vi caído um ancião.
Minha alma é delicada,
Este é o meu maior segredo
Assim socorri o mancebo,
Levando-o a minha casa.
Fiz tudo do que eu sei,
Ajudei-o quanto pude,
Lavei, curei, alimentei...
Sempre evitando ser rude.
Foi aí minha surpresa,
Pois o sujeito coitado,
Limpo e forte em minha mesa,
Apresentou-se como mago.
“Eu lhe concedo um desejo,
não posso tudo, eu confesso!"
"mas esqueça o seu pejo,
e aceite o que ofereço.”
Não preciso outro querer,
Sigo quieto meu partido,
Mas para não o desdizer,
Fiz-lhe breve meu pedido.
Quero a tudo esquecer,
Cada mágoa sofrida,
Cada palavra mal dita,
Voltá-las a não viver...
O velho sorriu cansado,
Procurou em suas tralhas,
E com um grito de gralha,
Celebrou o seu achado.
"O Baú das Más Lembranças!"
Encerre-as todas aqui,
Mas para ter sua fiança,
É coisa de não se abrir.
Se abrires esta peça,
Ainda que não queira fazer,
Nada haverá que impeça,
Seu momento de morrer.
Não posso dizer o que senti,
Foi toda a tristeza de uma feita,
Mas para a vida ser perfeita,
Tomei do baú e rompi.
____________________________
O BAÚ DAS MÁS LEMBRANÇAS
Maria de Fatima Delfina de Moraes, RJ, 30/08/2007
Delicada alma a tua,
ao acolher em teu lar,
mancebo desconhecido.
Ao referido mancebo,
deste comida e atenção,
curastes os ferimentos,
prova de servidão.
Grande peça pregou,
o suposto sujeito “coitado”,
apresentando-se a ti,
não como um pobre – um mago.
Que ingratidão foi aquela, que te deu como legado ?
Quem haverá de saber se como prova ou desagravo,
O Baú das Más Lembranças, com o teu destino encerrado?
Lamentei não estar aqui, naquele fatídico dia.
Por certo, eu te diria:
- Não há como encerrar,
em um baú más lembranças,
dos erros por nós cometidos.
Eis o legado de Deus,
que em Sua sabedoria
nos permiti com elas corrigir
erros dos antepassados.
Lastimável pedido o teu.
Não houve sabedoria!
Hoje eu acordo com a dor,
ao ver a casa vazia.