SONHOS MORTOS
Padre Antônio Thomaz
Tive sonhos azuis, na mocidade,
Que vinham, como pássaros em festa,
Encher-me o seio – um canto de floresta –
De gratos sons, de viva alacridade.
Mas um dia a cruel realidade
Pôs-lhes em cima a rude mão funesta
E exterminou-os... Nenhum mais me resta
Na minha negra e triste soledade.
Hoje o meu seio inerte, mudo e frio,
Se converte em túmulo sombrio
Por sobre o qual gementes e tristonhos,
Alvejantes fantasmas se debruçam:
São as meigas saudades que soluçam
Sobre o jazigo eterno dos meus sonhos.
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SONHO VIVO
Herculano Alencar
Sonhei, e ainda sonho, todo dia,
Que um dia eu viria ser poeta.
Que Vênus, minha musa predileta,
Viria atrás dos versos que eu fazia.
Sonhei viver no mundo Sophia,
Vizinho da Caverna de Platão.
Sonhei, e ainda sonho, desde então,
Voar no céu anil da poesia.
Esse sonho, apesar de tão antigo,
É o sonho que sonha, aqui, comigo,
Quando a vida se entrega ao pesadelo.
Se eu vir algum dia a ser poeta,
Peço à Vênus, a musa predileta,
Que me prenda num cacho do cabelo.