DESENCANTO
Padre Antônio Thomaz
Muitas vezes cantei nos tempos idos
Acalentando sonhos de ventura:
Então da lira a voz suave e pura
Era-me um gozo d’alma e dos sentidos.
Hoje vejo esses sonhos convertidos
Num acervo de penas e amargura,
E percorro da vida a estrada escura
Recalcando no peito os meus gemidos.
E se tento cantar como remédio
Às minhas mágoas, ao sombrio tédio
Que lentamente as forças me quebranta,
Os sons que arranco à pobre lira agora
Mais parecem soluços de quem chora
Do que a doce toada de quem canta.
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DESENCANTO
Herculano Alencar
Belíssima mulher! Olhos castanhos,
Sorriso que espanta o mau olhado,
Como fosse, por Deus, abençoado,
Apesar de pesares tão estranhos.
Mulher de corpo esguio, acinturado,
Queixo de Nefertiti, rijos seios,
Que grita, ao mundo, todos os anseios,
Enquanto o coração sofre calado.
Mulher que desejei no meu passado,
E que sonhou comigo, lado a lado,
Até alguém dizer que sou poeta.
Mulher do apesar, do entretanto...
Que, apesar de todo o desecanto,
Sem ela, a minha vida é incompleta.