DESENCANTO 

Padre Antônio Thomaz

 

Muitas vezes cantei nos tempos idos

Acalentando sonhos de ventura:

Então da lira a voz suave e pura

Era-me um gozo d’alma e dos sentidos.

 

Hoje vejo esses sonhos convertidos

Num acervo de penas e amargura,

E percorro da vida a estrada escura

Recalcando no peito os meus gemidos.

 

E se tento cantar como remédio

Às minhas mágoas, ao sombrio tédio

Que lentamente as forças me quebranta,

 

Os sons que arranco à pobre lira agora

Mais parecem soluços de quem chora

Do que a doce toada de quem canta.

 

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DESENCANTO

Herculano Alencar

 

Belíssima mulher! Olhos castanhos,

Sorriso que espanta o mau olhado,

Como fosse, por Deus, abençoado,

Apesar de pesares tão estranhos.

 

Mulher de corpo esguio, acinturado,

Queixo de Nefertiti, rijos seios,

Que grita, ao mundo, todos os anseios,

Enquanto o coração sofre calado.

 

Mulher que desejei no meu passado,

E que sonhou comigo, lado a lado,

Até alguém dizer que sou poeta.

 

Mulher do apesar, do entretanto...

Que, apesar de todo o desecanto,

Sem ela, a minha vida é incompleta.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 19/11/2021
Código do texto: T7389370
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