VOZES DO MAR
Padre Antônio Thomaz
No marulhar da vaga buliçosa
O velho mar declama, noite e dia,
Uma estranha canção misteriosa
Que a muito ouvido encanta e delicia.
Ora profere, em grita jubilosa,
Hinos festivos, cantos de alegria,
Ora modula, em triste voz chorosa,
Trenos de dor e salmos de agonia.
Não raro ele tem brados de amargura,
Uivos de fera e algo que parece
O gargalhar sinistro da loucura.
E às vezes lembra, na toada mansa,
Rumor de beijos, segredar de preces,
E balbucios meigos de criança.
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RUMORES DAS ONDAS DO MAR
Herculano Alencar
E vai e vem a onda espumante,
Num leva e traz gemente e compassado.
Traz ao presente e torna ao passado,
Um murmúrio de paz aconchegante.
É na areia, alva e doce amante,
Que o mar impetuoso se acalma,
E dá-se sem reserva, em corpo e alma,
E dá-se inteiramente a todo instante.
O que será que a areia diz pro mar,
Toda vez que se encontram pra beijar?
O que será que o mar diz pra areia?
Eu peço à poesia que responda.
E a poesia diz: escuta a onda,
Sem olvidar do canto da sereia.