Densidade

O tempo já não me convence mais pelas horas

Eu parto de mim …

Vou para espaços onde não tenho mais o roer dos minutos

Perco-me em instantes

Nas minhas eternidades

Não há tempo que possa falar por mim

Estou além desse mundo calculadamente marcado

Eu sou o desbotar da indiferença

Há uma porta aberta, a cadeira vazia sem ninguém a contemplar a lua

As estrelas me chamam ainda dentro do meu céu

Eu não deixo de ouvi-las mesmo que o mundo queira me ensurdecer

Vou desaparecendo daqui , minha imagem se emoldura na imensidão de ser plenamente poesia, mulher, repleta de infinitos.

Desvaneço-me ….

Sinto-me dissipando como a poeira que assenta nos meus tantos caminhos

Vejo-me numa vitrine, alma exposta, alma nua em noite sem lua

Estou neste espaço pequeno que não me cabe, sofrendo à míngua das migalhas de emoções que não bastam, não suprem todas minhas inquietações.

Vivo à espreita desse palco de formalidades, limitado, escasso de intensidades, vou desaparecendo…

Esvaindo-me nessa ausência de quem sinta a plenitude que em mim habita, da qual sou feita...

Carregando o estigma, ser uma estranha em terra desconhecida

Estou condenada à essa existência enclausurada, contida, bastarda, mitigando tudo nesse mundo de almas mascaradas.

Não basta-me o tempo, suas horas carregadas de enganos, já não basta míseros versos, palavras vazias, confusas, destoando meu pranto.

Há em mim uma elucidação de que fui feita pra ser imensidão, contemplo esse meu céu, adentro outros mundos onde sou revelada, e não há palavras, nem tempo, que possam definir a ânsia que tenho, de desprender-me desses vazios tão apertados que nunca, nada aqui poderá suprir.